quinta-feira, 26 de março de 2009

Café e Cigarro.


Ana pensava naquele moço fazia algumas horas, a voz dele refletiu na noite de insônia que ela teve e o perfume intenso a acompanhava pelo caminho gélido da manhã, sentia sono, mas seus pensamentos a desconcertavam.
Era obrigada a perceber que já estava acordada, andando e fazendo sua típica rotina, presa em devaneios tortuosos, vozes sussurravam em seu ouvido, palavras doces e intensas, palavras que nunca tiveram som, eram apenas delírios que nosso cérebro resolve nos dar como uma espécie de consolo.
Entre um transporte e outro, entre uma rua e outra, ele estava presente em sua mente, entre um olhar e outro, era apenas um devaneio, que para Ana possuía um aroma de real.
Ela não poderia parar de pensar naquela sensação estranha, ainda mais por aquela determinada pessoa, esfregava as mãos nos olhos como uma tentativa de não ouvir mais seus próprios delírios, óbvio que a tentativa foi um fracasso, o moço persistia naquele labirinto, Ana não conseguia achar um raciocínio lógico para entender como começou a pensar naquele desconhecido um tanto quanto proximo, não achava o início de tal insanidade, só lembrava-se do aroma que as palavras deles tinham e como a desconcertavam.
Estava de fato perdida, assim como Dédalo em seu próprio labirinto, eis que Ana estava em sua própria e tortuosa mente.
Afeto, desejo, ternura, entre tantos outros sentimentos estranhos ela sentia, estranho não por cada em si, mas pela miscelânea que a tirava do sério, pensava na voz dele, ainda mais no perfume, na pele, na tentativa de um sorriso, naquele corpo que destilava desenhos feitos de mistério, Ana diante de tal fato já havia desistido da lógica, não possuía concentração e os olhares eram conturbados, tentava lembrar as palavras, que, diga-se de passagem, foram frações de segundos e jamais vão ser ditas como assim foram.
Mas assim é a memória, cheia de falhas para quem sabe não deixar uma cena cotidiana digna da sétima arte ou mesmo para fazer com que nossas lembranças sejam mais intensas e delirantes do que realmente foram, creio que Bentinho entenda bem o que as minhas palavras querem dizer, caro leitor.
Ela estava chegando ao início, no lugar onde Ana havia reparado naquele moço, era um espaço realmente físico, não eram devaneios da mente tortuosa da menina.
Os passos eram mais rápidos, o pensamento cada vez mais intenso, era como se ele estivesse ali ao seu lado, escutando tudo o que a tirava do sério, analisando cada sentido da garota, mas não estava, não poderia estar, era apenas mais um devaneio de Ana
Eis que no ápice dos delírios, ela se deparou com aquele moço, o coração disparou, não por romantismo entre outras pieguices, mas sim por um medo nada lógico, os olhares se cruzaram no instante em que ela o projetava em seu próprio mundo das idéias e agora, ele estava ali, real, não tinha como contestar, era tão físico quanto o espaço que os unia.
Ele a olhou como se soubesse de todos os pensamentos, até os mais eróticos, ele a olhou como se a conhecesse melhor do que ela mesma. Para Ana, a sensação foi essa, apesar do seu raciocínio lógico destilar palavras não muito agradáveis para tal pensamento.
Durou menos que uma fração de segundos, para os olhou alheios, foi uma cena típica, ela como sempre simpática fez um gesto com a cabeça e ele retribuiu com o olhar, estava sentado no chão, era uma cena bonita, o copo de café ao seu lado e um cigarro na mão esquerda dando o charme de uma cena parisiense.
Não sorria, apenas destilava mistério, mistério que vinha do seu corpo, corpo com desenhos, desenhos que a tiravam Ana, mais uma vez faziam Ana questionar toda a racionalidade existente nesse paralelo.
Para os reles seres humanos, eles não falaram nada, foi apenas um gentil comprimento entre seres estranhamente desconhecidos, mas para ela, ah...para ela, o moço sabia de tudo, até mesmo do que Ana nem sonhava em imaginar.


Devaneios e delírios, o que seriamos sem eles, afinal?



Para a própria: Ana.
Meu maior devaneio.

Destilando minha ironia, Alea.