domingo, 31 de maio de 2009

Inspiração alheia.

E as conseqüências daqueles exames vieram a tona para Ana, que os expressou para Paulo, o próprio foi obrigado a dizer que já sabia, ela ficou um pouco irritada com ele, mas o Neruda em cima da cama com um laço vermelho a fez sorrir.
Ana ficou mais magra, Paulo também, ele não acordava mais Ana com o cigarro aceso, um suco de abacaxi com hortelã roubou o lugar, ela gosta de como o cabelo do Paulo cai, e o jeito como ele escreve, ele gosta dos quadros que Ana pinta.
Um dia ele resolveu colocá-los todos pendurados em lugares aleatórios da casa, ela não acreditou, por um lado ficou feliz por outro constrangida, sua arte era muito íntima para enfeitar os cômodos.
O Paulo ainda se irrita por causa da toalha molhada em cima da cama e do jeito como a Ana ri quando o vê balbuciando, o Paulo gosta de trazer morangos para Ana, ela não esta tão magra, mas o suco continua dando o ar de sua graça nas manhãs.
Abriram a caixa de Pandora e o passado de Ana a encarou friamente, as lágrimas fizeram do silêncio escurecedor, o Paulo viu tal cena, tantas cartas e papéis de bombons destilando a nostalgia diante os olhos de Ana.
Ele ficou encostado na porta e chorou sozinho no banheiro depois, a Ana sabe que ele viu e sabe que ele chorou, o passado nunca foi tão sombrio.
Mas a eternidade não existe nem nas angustias mais intensas, o Paulo viu a maneira como a Ana bebe água, semelhante a uma criança e sorriu, ela se desconcertou com aquele esquivo olhar imprevisível.
O Paulo gosta da Ana por cima e a Ana gosta dele com ar de professor, ela gosta que ele fique no controle [as intensidades de um passado não tão recente negam tal conclusão], ela gosta de morder e de arranhar e quer que Paulo faça o mesmo com ela.
Ana tem medo do barulho ensurdecedor dos talheres ecoando nos pratos vazios daqueles casais que já se acostumaram com o silêncio do mastigar alheio.
O Paulo e a Ana buscaram novos exames, a Ana chorou, o Paulo a rodopiou no colo, a Ana sugeriu uma lanchonete, mas o Paulo preferiu a surpresa do vinho, as lágrimas vistas pelo reflexo do espelho cessaram, os quadros de Ana tem mais brilho e os poemas de Paulo mais delírios.
O suco de abacaxi de hortelã virou rotina, mas aquela rotina gostosa...como o nosso espreguiçar, o cigarro aceso vem como as chuvas de verão e a caixa de Pandora com o passado de Ana está escondida entre as nostalgias dela.
As vezes o Paulo chora sozinho na varanda, mas quando ele se depara com a textura da pele de Ana, a eternidade monótona se transforma em efêmera.
E assim está bom, podem negar a existência da eternidade no amor, mas afinal, ter tanto de você em mim já não te torna eterno?




[ Tal texto foi totalmente inspirado em um pequeno conto de um garoto chamado Marcelo.
O blog dele é: http://potedebiscoitos.wordpress.com/2009/05/24/por-hora-tumblr-110309/ e o título é – Por Hora. ]

[ A foto é de João Paulo Saint Simon, meu irmão e melhor companheiro de viagem. ]

É isso senhores, câmbio e desligo.
Raquel.

sábado, 30 de maio de 2009

Memórias Perdidas. [ Primeira parte. ]

Memórias Perdidas.

- Que horas são?
Perguntava Lídia um pouco tonta, sem nenhuma noção de tempo e espaço.
-Três da tarde.
Respondia João com seu típico olhar sereno.
-Meu Deus! Preciso ir embora, perdi minha aula de teatro, o Caio vai me matar novamente.
-Toma um café, come alguma coisa, enquanto isso eu ligo para ele e aviso.
As palavras de João eram inúteis, a moça dos cabelos pretos já se trocava destilando pressa e uma certa irritação ao alheio.
Em frações de segundos já estava com sua camiseta vermelha e a calça desbotada bem justa, o cabelo precisava apenas do tocar de suas mãos e já estava impecável, era liso e curto, na altura da nuca, Lídia procurava seus óculos insistentemente e quando se deu conta, estavam nas mãos de João, que com um sorriso de lado observava aquela excêntrica mulher.
Ela se aproximou e em um gesto um pouco rude, pegou seu pertence, escovou seus dentes enquanto observava aquele moço de pulso fino através do reflexo do espelho, ela tocou em seus próprios cabelos, pegou sua bolsa, e beijou João no rosto, ele a abraçou forte e fechou a porta.
Lídia estava muito magra, não tinha um cotidiano, uma rotina, vivia na casa dos aleatórios, fumava compulsivamente e parecia perdida, nos olhares, nos sorrisos das pessoas com que estava, sempre olhando para o nada, como se estivesse procurando alguém.
E como de praxe, era exagerada, destilava exageros em toda parte, não, ela não perdeu a aula de teatro, chegou alguns minutos atrasadas e Caio, o diretor da peça, não deu a mínima quando a moça abriu a porta, mas se irritou com aquela mania.
- Lídia, por favor, o cigarro aceso aqui não.
Ela acatou seu pedido em segundos, com um pedido de desculpa expresso pelo olhar, apagou o cigarro e sentou-se com todos na roda, ali ela se encontrava e por isso era a única coisa que levava a sério, o resto era silêncio.
Se existia uma pessoa em que Lídia admirava era Caio, ele tinha seus trinta e poucos anos e seu um jeito gélido de ligar com seus atores, era bom na retórica e apesar da aparência séria, um sorriso contradizia aquele olhar de desprezo pelos outros.
Ela não sabia o motivo, mas realmente gostava daquele moço, mesmo que os diálogos fossem tão escassos, ela a encarava, a provocava.
E ali, naquela roda, ficaram horas, discutindo textos, idéias e inventando personagens, características, estavam mesmo é reinventando a vida de cada um, naquele espaço eles poderiam ser a essência.
Após duas horas era o fim, pelo menos aquele fim, todos saíram, se despediram e voltaram ser a estética vazia que eram, Lídia levantou sem pressa, olhou no relógio e constatou que eram seis horas e trinta e três minutos, colocou seu tênis que estava aleatoriamente em algum canto, apanhou sua bolsa e saiu, sem nenhum despedida efusiva.
Acendeu um cigarro assim que colocou os pés na rua, fazia frio e ela estava sem blusa como previsto, era um entardecer típico paulistano, as luzes davam o som para aquelas ruas cheias de caos, diálogos sem sentido eram escutados, algumas palavras, tantas histórias e Lídia com aquele mesmo olhar fixo, procurando o eterno e o efêmero.
Havia largado a faculdade de Direito no ano anterior, tinha 21 anos e fazia um curso pré-vestibulando para entrar em Artes Cênicas, porém com o passar das estações já não sabia mais qual era a sua escolha, freqüentava as aulas como alguns dos falsos católicos que freqüentam a missa, a moça escolhia as aulas, afinal já não sabia o que ocorreria no final daquele ano.
Resolveu naquele dia assistir uma palestra de Sociologia que teria às 8 horas, o lugar era próximo, apenas alguns minutos e já estaria lá, não via aquele ambiente há pelo menos três ou quarto dias.
Chegou bem adiantada, subiu as escadas, colocou Crime e Castigo para guardar a sua carteira, bem na frente, pois aqueles óculos já não melhoravam sua visão, a sala ainda estava vazia e aproveitando para fugir das futuras perguntas sobre a sua ausência, desceu as escadas com pressa e em meio a distração percebeu um moço que fazia o sentido oposto ao seu, o olhar de Lídia não estava mais procurando, ele ficou fixo naqueles olhos aleatórios que passaram como uma fração de segundo.
Enquanto o moço claro continuava a subir, a menina o acompanhava com seus olhos e após um suspiro os olhos esverdeados de Lidia já estavam perdidos, desceu as escadas sem entender a fissura por aquele estranho que nem o rosto conseguiu enxergar direito e procurou um lugar mais tranqüilo.
Achou, encostou-se a parede, pegou um cigarro na bolsa, procurava seu isqueiro sem paciência.
- Porra, onde está essa porcaria?
Exclamava sozinha.
Procurou nos bolsos, mais uma vez na bolsa, e nada, perto dela não existiam muitas pessoas e ela não estava expressando vontade de reproduzir sons até que ela escutou uma voz baixa e abafada falando com timidez:
- Isto é seu, garota?
O olhar de Lídia parou, voltou-se para aquela voz e deparou-se novamente com aquele moço, o que havia encontrado nas escadas, não conseguia responder, era como se olhasse para ela mesma, pediu pela racionalidade e ela lhe deu algumas palavras.
- É...eu...estava procurando ele agora mesmo.
- Acho que você deixou cair na escada.
- Obrigada.
Ele acenou com a cabeça e saiu, parecia tão triste, mas ao mesmo tempo sereno, Lídia não entendia o que a desconcertava naquele moço, era pequeno, silhueta magra e cabelos pretos, cachos desleixados, e andava em uma melodia ainda não identificada.
- Espera moço!
Ezequiel não esperava por aquela voz ecoando em sua mente, parou de andar e a encarou com os olhos esperando alguma fala.
- Você vai ficar para palestra também ou nem faz idéia do que eu estou falando?
Ele riu, um riso doce, sereno, parecia mesmo que quem ria eram seus olhos, quem se expressava era seus olhos.
- Eu trabalho aqui moça.
- Ah, desculpa, digamos que a minha freqüência aqui está se tornando um pouco rara, você trabalha no pedagógico?
- Não, não...sou professor mesmo.
Lídia sentiu uma tontura, uma falta de ar, diversas vozes ecoaram em sua mente: professor...professor.... Colocou as mãos sobre os olhos e tentou acordar.
- Você está bem?
Perguntava ele sem esboçar uma reação demasiadamente preocupada.
- Sim... acho que estou com fome.
Antes de o deixarele completar sua última frase ela continuou:
- Me desculpa, não deveria ter tentando adivinhar quem você é.
- Não, tudo bem, com essa minha aparência de “gente séria” é normal a tua confusão, quer tomar um café e comer alguma coisa?
- Quero sim!
Lidia definitivamente não era assim, era antipática, fria e detestava pessoas demasiadamente doces, pelos menos assim ela achava que era.
Enquanto eles andavam em um silêncio confortável, os olhos de Lídia estavam nos olhos de Ezequiel, e os olhos de Ezequiel eram esquivos aos de Lídia.
O cigarro e o isqueiro foram esquecidos no chão assim como a máscara de cada um daqueles seres.
Era como andar do lado de um amigo antigo, de um amor mais antigo ainda, aqueles que a gente escreve para eternizar, já que não vão ser concretos pelo menos enfeitam as páginas da nossa adolescência.
Em um momento de impulso, Lídia parou bruscamente de andar, segurou as mãos de Ezequiel e encarou-o visivelmente pela primeira vez.
- Moço, não me acha uma louca mas eu realmente te conheço de algum lugar, isso de maneira nenhuma é um flerte ou algo parecido, mas eu estou extremamente conturbada com essa situação apesar do silêncio estar confortante.
Ele sorriu, desta vez com os lábios, não largou as mãos de Lídia, apenas segurou-as com mais intensidade, chegou bem próximo dela e a abraçou, um abraço sem pressa, com o corpo inteiro, ela não entendia, o perfume dele fazia parte do seu cotidiano que um dia tinha existido, a textura da pele dele estava em alguma das suas rotinas, o seu coração estava disparado e ela finalmente se entregou aquele abraço, de corpo inteiro.
E durou frações de segundos eternas, os olhos dela não olhavam mais para lugar algum, estavam fechados e os dele também, era a pura essência.
Um movimento brusco tirou a poesia da cena.
- Desculpa Lídia, eu realmente preciso ir, já deve ser quase oito horas e eu ainda não terminei de preparar uma aula.
Disse ele, já longe do corpo dela.
O silêncio disse por Lídia, enquanto ele se afastava, as questões dela tendiam ao infinito.
Ela ficou parada, vendo a realidade ir embora até que o seu próprio nome começou ecoar em sua mente: Lídia, Lídia, Lídia.
- Como ele sabe meu nome?
Exclamava a moça.
Correu para encontrá-lo, subiu as escadas em uma velocidade extrema, de andar em andar até deparar-se com a porta fechada, viu pela pequena janela, uma sala lotada com alunos, a lousa com alguns poucos números e ele com aqueles olhos serenos e tristes.
Os olhares se cruzaram por um único instante, ela não queria atrapalhar a aula dele, estava conturbada e sem alicerces, sentou no chão enquanto a voz de Ezequiel ecoava na sala e fora dela.
Ela queria roubar os olhos dele, e não só os olhos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sexta-feira.


Te ver é sempre tão bom.
Com teu olho pequeno.
Teu rosto claro e aquele típico pseudo-sorriso feito com o canto da boca.
Tua silhueta magra e teus cachos desleixados
Te fazem sereno.
Teus passos viram bossa nova.
E os abraços devaneios.
Me acalmam tanto e me levam para o mundo das idéias.
Faz do meu irreal, real e da realidade, delírio.
E diante disso fico confusa.
Às vezes teu olhar não reflete no meu.
Mas no aleatório ele me surpreende.
As palavras deixam de ter som e as frases já nem insistem na existência.
Peço pela razão.
Ela tende a falhar.
Mas desta vez o racional resolveu sorrir para mim.
Me fazendo desviar do seu aleatório olhar.
Resistindo a tua face austera e tão clara.
Me chama para te acompanhar na caminhada.
Mas não usa tanto das palavras.
Você não precisa delas.
Eu neguei usando do alheio para mascarar os meus medos.
Você não esboçou reação, e quando esboça?
Mas usou das palavras para me fazer sorrir.
E sumiu na multidão com teu jeito atrapalhado.
Levando meus delírios e minhas poucas verdades.
Sem despedias e nada efusivo.
Assim eu gosto mais.
Já imagino novas frases e olhares.
Teu sorriso me encarando e destilando uma inocência promíscua.
Mas desisto do idealizar.
Te encontro logo.
Assim espero.
Mas da próxima vez
Por favor, razão
Me poupa das mentiras sinceras
Porque com você, elas não me interessam.

Ana T.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Antes do Amanhecer.

Se você pedisse para eu fugir contigo não hesitaria por nem um segundo, poderíamos ir para uma rodoviária qualquer e escolher uma qualquer cidade, sem grandes planos e discussões sobre o próximo passo.
Me empresta a sua camiseta que eu escrevo nas tuas páginas em branco, a gente consegue uma calçada e um vinho e podemos ficar um tempo assim, sentados no chão delirando sobre as estrelas inexistentes e declamando poemas sem som.
Sorri para mim com aquele teu jeito histérico e cobre os lábios com as mãos, como de praxe, depois me fala sobre o teu platônico e teus anseios, eu escuto cada descrição, cada palavra e cada frase, elas tomam a minha mente e em segundos e eu já me sinto uma personagem em tuas histórias.
Eu queria ser um conto seu, cheia de melindro e perfume, agora a gente fecha os olhos e descansa um pouco, pode deitar no meu colo, logo eu perco os meus sentidos devido ao ilícito e não só por ele.
Depois eu acordo no seu colo e não entendo mais nada, o dia é nublado e eu gosto disso, existe uma fresta de sol que tenta insistentemente ultrapassar algumas nuvens, você coloca teu casaco sobre os meus olhos e eu esboço um sorriso.
Agora percebo que nós dois estamos deitados em uma grama macia, eu no seu ombro e você me olha e ri, a mente lembra-se do vinho e os olhos derramam algumas lágrimas sinceras, o sol agora existe e é real, me queima a face, mas eu não quero sair dali.
O diálogo é sempre imprevisível, nunca sei bem qual vai ser o caminho, quando me deparo já estamos na caverna de Platão, no mito de Narciso, andamos sem pressa e falamos de vícios, futilidades da estética alheia e a própria, questionamos sobre o cotidiano banal de nossas vidas e caímos na promiscuidade com risadas que rosam meu rosto.
Te descrevo e descrevo o que me encanta no alheio, nos sorrisos e olhares aleatórios que fazem com que minhas noites virem sinônimo de insônia, você ri mais uma vez, se espanta com minhas conclusões e discorda, eu te dou um beijo estalado no rosto e teu sorriso me faz serena.
E tuas mãos fugitivas seguram a minha eternizando o espreguiçar sem pressa de uma amizade eterna que dura frações de segundo, eternamente, eterna mente a nossa que ao nos desconcertar é éter na mente e é ter na mente os nossos maiores devaneios e delírios.



Comentários atípicos sobre o texto:
O último parágrafo se inspira em um poema que brinca com as palavras e frases: eternamente, eterna mente, éter na mente, é ter na mente.
Porém eu realmente não lembro o nome do autor, tentei achar na internet mas são inúmeros os poemas em que isso ocorre.
E o meu texto é totalmente inspirado no filme: Antes do Amanhecer de Richard Linklater. Sublime por si só, não? O filme, claro!

é isso pessoas, câmbio e desligo.

Ana T.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Uma pitada de Schopenhauer.

A vida é insana demais.
É tudo tão cheio de melindro, coisas tão minuciosas que definem os teus próximos passos, seja um olhar alheio que muda totalmente as tuas ideologias ou quem sabe um simples desencontro por causa da chuva, o celular não funcionou, ela não teve como avisar, você ficou sentando em um banco pensando o que tinha ocorrido, tentava ligar, não tinha sucesso e a sua imaginação foi além da dor para fazer com que desistisse mais rápido, saísse dali correndo e não procurando mais notícias da pessoa que chegou após alguns minutos, extremamente encharcada.
Os laços são feitos e desfeitos tão rápidos, o arrepio, o toque, os beijos e os olhares duram frações de segundos, a sintonia que existia na essência durou o tempo necessário para se tornar eterna nas páginas de um livro branco, apenas de um livro, apenas na literatura, o real foi esquecido, nem as lembranças traduzem mais as sensações.
Somos acostumados com o pessimismo, “não existem amores que duram para sempre, a pessoa que você julga seu melhor amigo vai sumir pela vida, tendo um caminho diferente do seu e provavelmente vocês vão se encontrar em uma quarta-feira cinzenta e vai existir um sorriso mutuo e vai se restringir a isso, vão ficar nostálgicos por algum tempo e talvez vejam fotos do passado mas esse é o limite”.
A gente cresce ouvindo isso, os poemas destilam a tristeza, a expressão é feita do amor perdido, da nostalgia pela amizade ou mesmo por uma época.
E talvez por tanto não acreditar em nada, usamos do consolo da juventude para poder assim parecer sonhador, mesmo que por muitas vezes escutamos os mais velhos falando o quão impossível é o futuro que esperamos, e infelizmente para parecer um tanto racional temos que mostrar para eles que sabemos que o “certo” é realmente a palavra deles, que sim...concordamos com a negação do nossos próprios sonhos usando mais uma vez a idade como uma desculpa.
Não quero questionar a existência de contos de fadas, mundo utópico e amores eternos, quero saber o motivo de pararmos de acreditar neles, a razão pela qual temos que nos mostrar racionas quando não precisamos assim ser, ensaiar discursos para provar aos mais velhos que não somos seres idealizadores, se assim somos, se assim queremos ser.
É uma dupla personalidade triste, por um lado temos a paixão, a intensidade e a crença em nós mesmos, na concretude de nossos sonhos e por outros temos frases feitas para provar para os nossos pais que teremos um trabalho assalariado e não vamos perder tempo tentando mudar algo imutável.
Existem esses dois seres em um ser humanos, porém em um determinado momento a segunda face fala mais alto, eis que fazemos de nós o nosso discurso pronto, a nossa frase feita, a personalidade que fingíamos ser.
Descrente em tudo.

Raquel. [?????????]