quarta-feira, 23 de novembro de 2011

no passo

encontra assim . rápido. olhar que cruza sem querer. desvia. pára. pensa. e vai embora. passa. passa pó. café, passa um chá - passa qualquer coisa. passa o sono e a aula. passa o metrô o trem o transporte público. passa? não passa. não passa. e ele? ela passa! mas não conta. passa o cheiro. fica o cheiro. passa e fica. fica e passa. fica na pele. passa no ar. encosta. passa. passa o cheiro pra minha pele. passa o teu cheiro pra minha pele. passa o dia a cama e o lençol. passa a rima barata e o vinho decassílabo. pára e olha. olha e pára. passa e pára. passa pára e olha. passa e olhar para quem? passa e pára para que? passa e pára pra quem? passa o acento diferencial. passa o beijo (não passa) não existe. existe? passa o devaneio. a fantasia, delírio. passa. acorda. passa o quase. passa. mas respira mais alto. finge. sorri e fica leve. passa o disco passa o som passa vitrola - passa o andar de quem não olha, mas sabe que alguém sente. passa a tosse (não, essa não passa) passa - borda o segundo. a palavra que tropeçou da boca na boca. passa a ação! e o tesão passa? passa sem querer passar. passa querendo. passa na bossa nova ... passo em bossa nova. passo em sustenido. passo passa? passa. passa o passo assim devagarzinho. passa o que derrete. passa e eu me derreto no passo que passa. no teu passo que passa.
passa o toque mas continua a pele.
passa ou não passa?

passa o que é
e
o que ainda não foi.



beijo da Ana T.
beijos e passos que não passam.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

mel, cigarro e contradição

Oi amor, trouxe as margaridas? Se apaixonou por alguém hoje? No metrô, na Paulista ou no elevador? Se apaixonou por uma desconhecida, por um sorriso, pele ou textura? Talvez tenha se apaixonado por uma velha amiga. Mas tudo bem, não existe problema, somos livres, nosso amor não é possessivo, mas te peço quase em silêncio, que não se apaixone por histórias, não fantasie delírios cheios de vontade com a moça bonita da locadora.
Não dissimule comigo, não sonhe seu futuro com a dona daqueles olhos verdes. Me queira com a nossa contradição. Não beije minha boca pelo hábito de beijá-la, quando faço isso não sinto gosto, quero estilhaçar os vidros, desligue o celular, não olhe para o lado destilando tédio, vá embora, vá para onde teu tesão te grita, mas não fique comigo, sentado no sofá nessa tarde ensolarada de uma quarta-feira de cinzas, não fique aqui comigo, enxergo nos teus olhos que não quer estar aqui, será que não entende que para estar é necessário que existia plenitude? Caso isso não ocorra, os olhares ficam assim...estáticos, o beijo falta saliva, a pele não sente a textura. Não, meu amor, não, eu não te culpo por se apaixonar pela dona do sorriso desconcertante, não quero falar em culpas, não quero, não quero. Eu só quero correr e parar de sentir tanto calor, correr no ar fresco, me refrescar, entende? Amor, eu quero que você vá embora, como dizia o samba, "eu preciso aprender a só ser..." enxergo tantas coisas nisso...enxergo tantas coisas em tudo. Não consigo mais escrever, não sei mais pintar, sinto todos os traços presos a mim, todas as cores e tintas, aquarelas e pincéis, sinto sinto....respiro enfim.
Meu amor, eu só quero dormir, acordar com você fumando teu cigarro e beijando meus olhos, ouvir Clube da Esquina na vitrola, ouvir os baianos fazendo zumzum, passar a tarde na cama, contando e confabulando nosso futuro, que vamos confabular com tantos outros e outras e com nós mesmos e sem ninguém e com a ausência gritando lá fora ou aqui dentro. Meu amor, me perdoe por ser assim, cética em excesso, você não quer acreditar....olhe esse temporal...talvez eu seja mesmo exagerada. Talvez.
Um beijo, mel e um cigarro.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

outubros alheios - um texto sem gosto.

Eles eram tão novos, ele nem tanto, ela de óculos azul, ele girava a caneta, ela viajando com o colégio, ele na porta do ônibus, o passeio durou uma semana, ouviram a voz um do outro todos os dias, ela esperava o silêncio da madrugada, se encolhia na cama e sussurrava que o amava, ele sorria, eles se amavam, tudo novo, tão novo, ela sentindo o gosto do corpo molhado, ele extasiado de vontade. Durou pouco, tão pouco, a rotina gritou mais alto,a distância também, insegurança, imaturidade, qualquer coisa assim, ela nunca mais achou aquele lugar no parque, aquele....com um banco e uma árvore...a chuva, o céu cinza, o cheiro de grama molhada...aquele lugar que ela havia ido com ele, e girado em seus braços magros e beijado sua boca fina. Sem vodka aos finais de semana, apesar de nova, já bebia, fim das cartas enormes durante as aulas de Geometria, fim da tentativa de estudar Física por meio de aparatos eletrônico, fim, fim, gritava ela, estava com medo, sempre teve medo, outro amor, outro gosto e pele, ele chorou, acordou bêbado em algum lugar, e assim foram se perdendo um do outro aos poucos, o tempo foi passando, um, dois, três anos, ela sempre pensou nele, sempre, era um amor estranho e idealizado, mas era dela, era dele por ele, talvez uma pitada de culpa, pessoas novas, namoros, paixões, amores, amores que a detestavam, sonhos contínuos com a mesma risada, ele nunca a procurava, ela, apesar da memória falha, lembrava das coisas mais banais, aniversário, o dele e o seu, curioso isso, quando completou vinte e três anos, completamente ébria, voltando de uma comemoração atípica, parou na frente do primeiro orelhão e ligou pra ele, atendeu uma moça, ela chorou, chorou porque ele não ligou, chorou porque se sentia ridícula e presa a um passado idealizado. Ele nunca a respondia, mensagens, cartas, telepatia e sintonia, ela não, ela sempre estava lá, sentada sorrindo, não que o amasse ainda, nada disso, era outra coisa, com ela sempre era outra coisa. Uma briga, um fim de algum relacionamento ou nada disso, só sei que ele a procurou, falava falava falava, ela tinha uma certa dificuldade em lidar com fantasmas, mas o ouvia, o escutava com o corpo e com a alma, a intimidade estava ali, parecia intacta, apesar da ausência do contato físico, às vezes ela se espantava – meu deus, já faz tanto tempo! Antes ainda havia algum atrito sexual com esses dois (?), hoje eu não sei. Ele voltou, ela nunca havia saído, talvez fosse uma obsessão. Ele perguntava o telefone dela, ela dizia sorrindo e depois complementou – eu nunca, nunca me esqueci de seu telefone.