quinta-feira, 20 de maio de 2010

Lua e café com leite ?

Faz um café com leite pra mim? Coloca um Mutantes ao fundo só pra eu poder reclamar que é a mesma música de sempre? Ai eu posso sentar na bancada e ficar observando cada ação, cada sorriso e a maneira como você se movimenta, eu queria mesmo é poder desenhar tudo isso, desenhar com uma tinta eterna.
Só o teu café com leite é bom, adoçado da maneira certa, acho que me lembra um pouco a casa da minha avó, as xícaras bonitas, o leite com nata que ela insistia em dizer que não tinha e eu quem era uma fresca! É bonito ver você colocando açúcar na minha caneca, sorrindo com o cabelo caindo nos olhos, é dono de movimentos seguros, procura o isqueiro, acha rápido, não perde nem cinco minutos.
Ai você senta comigo na bancada e fica me olhando, fica aquele silêncio gostoso por alguns segundos, passa aqui, passa ali, a gente ri um pouco, chora, chora tanto, faz teatro sem público, as conversas não possuem ponto final, as frases são inacabadas, uma palavra aleatória puxa aquele assunto que não terminamos ontem, que ficou pra hoje, estranho, mas já me sinto uma velha amiga tua, pois é, deve ser porque eu sou.
A lua enfeitava meu café com leite, sentei pra escrever e ela sumiu, ficou a lembrança, a nostalgia, nostalgia da gente rindo, sentados na escada em outra dimensão, percepções aguçadas, realidade distorcida, você..você...sempre aqui..ou eu quem estou sempre ai?
Ficamos um tempo nessa escada, dançamos uma música que logo acaba, você me pede para que eu não sente na mureta, olho para baixo e não sinto medo de altura, meu coração dispara, sinto em minhas mãos a pulsação dele, você me falava que sabia que iria chover hoje por causa das nuvens, eu dou risada, você me explica a paisagem, eu entendo e falo sobre a via láctea, eu te olho com aquela cara, nos levantamos e voltamos, tua cama, teu quarto, nunca me senti tão presente como agora, nunca tentei decorar tanto a posição dos poucos moveis e para onde seu olhar fita, eu deito, apaga a luz, sinto seu cheiro e me aconchego em você.

Ana T.
Sempre Ana.