sábado, 27 de março de 2010

Luzes

Já é tarde, as roupas ainda estão em cima da cama, a camiseta velha cobre meu corpo branco, e o Renato Russo canta para mim, a lua me encara desde o começo da noite e as luzes da cidade me provocam.
Me encontrar em um texto teu é loucura, e que loucura cheia de coincidências, medos, delírios, menta e amora..não tenho sono, não tenho hora, é tudo tão surreal. Ainda acho que vou te encontrar novamente na rua, com cara de assustado, ainda acho que vou chegar a uma conclusão sublime sobre minhas contradições e ainda insisto em insistir escrever algo, sabendo que não vou conseguir colocar um fim.
É sábado, as pessoas normais saem pelas ruas, bares, restaurantes, e até os lugares mais constrangedores e exóticos, outras...ficam no telefone, viciadas na tecnologia do contato restrito as palavras e frases, e eu me perdi, dentro de mim, dentro deste quarto pequeno, entre tantas personalidades minhas, entre a intensidade de um passado tão recente.
Tira o som dessa TV, pra gente conversar..pra eu conseguir escutar meus pensamentos, eles gritam, depois sussurram, e eu não os entendo, não sigo raciocínio lógico, preciso de um banho, de água caindo em cima do meu corpo, pode ser uma cachoeira, a gente escreve depois, pode ser?
Não sei onde guardar minhas roupas, não acho as coisas na cozinha, e é sábado..sábado..sábado..é até sonoro...e eu quis ficar em casa, não fiquei o tempo todo deitada na frente da televisão, não arrumei meus textos, muito menos li, não escrevi, nem pratiquei exercício, fiquei em mim, tentando me encontrar, fiquei em mim por um bom tempo, e achei tanto de você, pena que não consegui te dizer.
Eu me confundo, eu te confundo, agora..tudo parece tão claro..porque eu não penso em nada concreto, os pensamentos pairam delicadamente em meus ombros, em minha pele, ela me chama de inconseqüente por coisas tão banais, e os alardes, ela ri e fala que é normal, céus, como pode um fato ter tantos significados para pessoas diferentes?
E os amores mal resolvidos, inacabados, e as cartas de amor ridículas, os gritos, o sexo e o acordar gostoso com um suco de abacaxi e o teu cigarro provocante, é tanta coisa, tanta sensação, acho que é por isso que a gente vira tanta gente em uma coisa só, e as vezes..não é harmônico, não conseguimos.
É só um nome..e faz toda diferença..se ninguém me contasse que hoje é sábado..eu não estaria olhando para as luzes da cidade como estou, imaginando os bares e pessoas com roupas previsíveis, tive tanta chance pra sair daqui e fiquei..fiquei..estou..e foi tão bom.
Preciso dormir, fazer café, arrumar a casa, a mente, as sensações e a minha percepção delas, ela diz que pra mim, tudo é poesia..e deve ser..” mas a única maneira ainda de imaginar a minha vida é vê-la como um musical dos anos trinta”.
Parar de beber é um bom começo. Parar de me embriagar, jamais, afinal..só os normais se embriagam apenas com álcool, eu me embriago com as tuas poesias, com o teatro que a gente faz sem público, só pra gente, com o tango secreto que as nossas mãos dançaram, com teus beijos roubados...com a realidade e principalmente quando a questiono.

Câmbio/desligo.

Ana T