domingo, 31 de julho de 2011

João.

Ler ao som de : Suor do Sol - Novos Baianos

Para o meu João:

O João.

O João tem o olhar mais bonito do mundo.

Aqueles olhos redondos, expressivos e encantados.

O João é quem me olha nos olhos.

Sorrindo, todo cheio de manhas.

O João me entende com a alma.

Sem justificativas, sem desculpas e amarras

O João é livre que nem passarinho

Sabe, esses dias eu cheguei em casa e o João não estava, ai eu sai procurando

E não achava, não achava, fui ficando sem ar, fui me perdendo e não consigo me achar

Me debrucei na janela, olhei pro céu e chorei

Chorei tanto

Cadê o João?

O João sempre cuidou da Raquel

A Raquel sempre cuidou do João

Tá tudo tão pequeno, tá tudo sem sentido

Parece que eu não moro aqui

Tá tudo tão vazio, a casa, os corredores, eu

Ta tudo tão sem graça

Fiquei olhando pro céu sem estrelas fiquei olhando pra toda gente

Apartamentos acesos, carros, ouvi barulho de risada, garrafa quebrando

Senti vontade de gritar João João

É tanta ausência, é tanta ausência em mim

Mas ai amanheceu sabe...

E na minha janela apareceu um passarinho bonitinho

Com o peito amarelo

E puxou conversa comigo

Quis saber qual era o motivo dos meus olhos inchados

Eu falei né, e ele me lembrou uma coisa linda

Que o João só é João se é feliz

Ai eu sorri e me veio um choro leve, doce

Com tanto amor e tanta ternura

O bichinho tava certo

O dia amanheceu lindo, cheio de saudade

Mas é assim né não?

O passarinho bateu as asas e foi-se embora

E eu fiquei pensando

O João pode ir pra qualquer lugar

Bogotá, que seja

O olhar dele não vai desgrudar de mim

A risada é nossa, as bobagens são nossas

O laço é tão forte, não carece ter medo não!

O amor é tanto que até pode doer

Mas sempre vai me fazer respirar melhor

O João sempre vai me olhar nos olhos, até quando não estivermos nos vendo.

É além sabe?

É pra sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre....

quarta-feira, 27 de julho de 2011

no instante em que você sentir vontade de

transbordar (bordar)

abordar

o tédio

você grita bem alto

– grita

! !!!!!!!!!!!!!!!!!!

você puxa conversa

e conta para um desconhecido

qual é o gosto da monotonia

o tom contínuo

o mesmo tom

às vezes é só não gostar-cansar

às vezes

é não

saber

o

por que

isso é louco!

isso me pira !!!

como a gente para de sentir as coisas?

como

eu começo a sentir?

qual é o instante?

é tudo química?

(já teve tanta

coisa imprevisível

atípica

mas sem sentido

sem sentido no sentido da ausência do sentir

sentir)

talvez nem tudo

seja uma questão

de monotonia&tédio.


pra você é só com

corrente elétrica percorrendo o corpo inteiro

não te imagino almoçando

acostumado a ouvir o ecoar dos talheres alheios

não te imagino preso a sala de jantar

rotinas insustentáveis

não imagino

não idealizo

idealizar é chato

não quero o ideal

quebre os pratos

grite comigo

me segure pelo pulso

só não me deixa desmaiar

não

destile

indiferença

eu analiso tudo

isso sufoca

às vezes

paranóia rotineira

relações são de vidro? cristais?

detestam perturbações

mas eu quero é perturba-las

quarta-feira, 20 de julho de 2011

eu, você e todos nós

- Abril acaba nessa sexta.

- Quando terminarmos a rua, nos separamos.

- Ainda não nos cansamos um do outro.

- É pouco tempo.

- Três semanas.

- Não era um mês?

- Não vejo defeitos.

- Vícios inofensivos, literários.

- Vou te ligar pra saber como foi seu dia.

- Não quero que você me conheça.

- É. Acho que não quero saber dos teus anseios.

- O que você fez na tua mão?

- Queimei com o isqueiro.

- Proposital?

- Talvez.

- Você já namorou?

- Com você, hoje faz três semanas.

- Um mês, digo...além de mim.

- Nunca.

- Nunca ficou bastante tempo com alguém?

- Você quer saber do meu passado? Quer outro cigarro?

- Sim, obrigada. Eu gosto de imaginar as pessoas vivendo suas vidas...em outras esferas, relações cotidianas.

- Acho que o máximo foram três meses.

- Os defeitos já gritavam?

- Eu gosto da empolgação.

- Tá com frio?

- É que esse chão tá gelado.

- Vamos levantar.

- Não, não precisa.

- Vem!

- Como você sabe que eu to com frio?

- Porque eu sinto teu corpo tremendo.

- Você é estranha.

- Você quem é.

- Eu gosto.

- De ser estranho?

- De você estranha.

- O jeito como as pontas dos seus dedos tocam meu rosto.

- Gosto do cheiro misturado, pele e cigarro.

- Eu também. Fica aqui oh...

- É.

- Queria outro cigarro.

- Tem outro aqui...ai..acabou.

- Ficou o cheiro na ponta dos dedos.

- A rua está chegando ao fim.

- É, eu sei. Mas o meu cheiro vai ficar em você.

- Pena que é só o cheiro.

- Todo essa movimentação..vicia.

- É...puxar o cabelo, suspirar, respirar, sentir a língua desmanchando na boca.

- Um tango em silêncio.

- Você me faz sentir frio e calor ao mesmo tempo.

- Meu ombro é um dos pontos fracos.

- Eu percebi.

- É...acho que é isso.

- Você volta? Ai..olha eu querendo controlar tua vida.

- Claro que eu volto. Sem justificativas por hoje.

- Sem achares. As crianças que vivem.

- Espontaneidade.

- Te imagino jogado no chão brincando com criança.

- É! É isso mesmo.

- Experimentações libertárias.

- Oi?

- Nada. Eu falo demais.

- Talvez.

- Viu, vou-me embora.

- É, a rua acabou.

- E a empolgação?

- Continua.

- Tem gente que prefere terminar no ápice.

- Eu prefiro morrer de intensidade.

- Lembrei-me de “Cleo e Daniel”.

- Todas pessoas olhando pra gente, julgamentos, pudores, ódio.

- Falta de sexo.

- Falta tesão.

- É. Sexo tem muito.

- Pânico de tédio

- Monotonia me assusta.

- Me envolve com tantas coisas, mas não me concentro em nenhuma.

- Correntes elétricas percorrem o meu corpo inteiro. Agora. Com você.

- Minha pele na tua.

- Preciso ir.

- Então vai.

- Volta.

- Cuida desse resfriado.

- Eu cuido.

...


Inspirado no filme "Eu, você e todos nós" - e não só.


terça-feira, 12 de julho de 2011

como as coisas livres a luz do sol

Arrepiou o corpo inteiro, tirou o fôlego, fez perder a hora, mudar o ritmo de São Paulo, ser turista sempre e andar no passo que eu bem quiser, olhar pro alto, falar da lua e declamar poesias ruins no teu ouvido, fumar do teu cigarro, beber da tua bebida, rir, falar falar falar sentir vontade, vontade mesmo.... sabe, daquelas que dá e não passa com exclamação! sem ironia por hoje, sem sarcasmos e afins, sem fins e enfim sem pontos sem teorias sem roupa e com muito tesão!

Ana T.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

interruptores de desdém

Ontem eu vi o abismo que agora existe entre nós.
Chuva e frieza.
Meus olhos ardem tanto.
Cegueira momentânea.
Talvez tenha queimado a retina e estourado os tímpanos.

mais do mesmo e foda-se

Eu penso todas as noites naqueles cadernos.

Nos dois vermelhos, no preto.

O preto eram coisas mais acadêmicas sabe? Mas todas relacionadas aos Anarquismos.

Sinto saudade da folha. da textura...branca....

Sério, me sinto extremamente perdida.

Queria chorar, mas não consigo.

Aperto tão forte.

Ausência de rumo.

Não é exagero. Ponto.

Não peço pra você me entender, nem pra me consolar.

Só me escuta.

Já pensei em sair dos blogs.

Sumir com a Ana T.

Mas ela já está tão distante.

Ladrão maldito. Maldito.

Fodam-se as causa sociais.

Fodam-se as lutas de classes.

Não quero saber de Foucault.

Já pensei em nunca mais escrever. Nunca mais.

Sumir de todos os meios de comunicação.

Todos.

Mas não consigo.

Preciso me expor, expor a dor. Despertar a dor.

Queria sentir uma dor física.

Algo mais concreto.

Me sinto louca, sentindo tanta coisa abstrata.

Ainda penso em parar de escrever.

Boicotar a mim mesma.

Proibir todos os impulsos.

Eles vão é virar pó mesmo, de qualquer jeito.

Porra, eu perdi tudo...

Eu olho todos os dias as estantes, vejo os livros e procuro o vermelho.

Todos os dias.

É uma dor abstrata. Isso me irrita.

Acabou Raquel, acabou.

Pára de querer continuidades, fase de destruição.

Fase de destruição.

Não! Porra! O meu eu mais vergonhosos estava lá, coisas que eu não dizia nem pra mim mesma, porra, porra, cacete!

Porra!

Me sinto perdida.

Não quero frases de auto-ajuda, não quero ouvi-las.

Que vão se danar todas elas.

"Ai, isso passa."

"Você supera...."

Que bom que passa. que bom que eu supero. porra.

Adoro ser a adolescente rebelde.

EU VOU É TOMAR UM PORRE.

Obrigada.

Não precisa nem escutar. Foda-se. Ninguém lê, ninguém escuta, falo o que eu quiser. só eu escrevo nessa merda mesmo.

Raiva.

RAIVA ENLATADA DA PORRA.

Não quero dormir com essa energia.

Vamos parar por aqui, vamos pensar em borboletas azuis idiotas voando por ai.

Fase de destruição.

Vamos deixar o passado pra lá?

No lugar dele?

Chega de amores amáveis....chega de querer reviver o que não viveu.

[eu postei isso em outro blog no dia 6 de julho.]

câmbio/desligo

segunda-feira, 4 de julho de 2011

olhar viciado

- você não escreve mais?

- não.

- por que?

- ah....

- eu gostava das coisas que você me escrevia.

- teu olhar era viciado.

- tá vendo como você ainda escreve.

- às vezes eu até sinto vontade sabe...mas ai eu começo a me analisar...e a vontade some.

- não cara, escreve e pronto.

- é que geralmente quando eu sinto vontade eu estou deitado.

- ah, para com isso né...tenha um bloquinho ao lado da cama.... escreve...gostava tanto dos teus escritos.

- já disse que teu olhar era viciado.

- bonito isso...olhar viciado...podia até ser, mas eu também escrevia..e não era qualquer coisa que eu gostava de ler, nunca é.

- você escreve ainda né?

- acho que eu vou escrever pra sempre.

Ele riu, os olhos eram esverdeados e os cachos castanhos.

Ainda estava inconformado com o fato da sua primeira namorada já estar trabalhando.

- Como isso? Estou me sentindo velho! Será que já faz tanto tempo assim?

- Já cara, um bom tempo.

- A gente estudou junto no Jardim de Infância.

- Tá, mas disso a gente nunca lembrou.

- Como assim?

- Ué, quando a gente começou a namorar eu não me lembrava de você criança.

Os olhos dele desviaram dos dela.

- Eu sabia quem você era....mas...era tanta timidez em mim.

- Ah..sabia nada.

- Sabia sim...

- Eu também era tímida.

Ele deu uma gargalhada gostosa, ela sorriu um pouco tímida.

- Borboleta...

- Anjo!

- Cada coisa que a gente inventa né não?

-Pois é.... bom, to indo embora do trabalho, finalmente.

- Vai lá, vou ver se ainda pego o bandejão aberto!

- O tempo passou né?

- Pois é.

- Viu...

- Oi?

- Volta a escrever.

- Quem sabe...

- Escreve pra mim....

Ele sorriu..um riso inocente, como aquele da adolescência...

- Será que o teu olhar ainda é viciado?

Ela encarou os olhos esverdeados dele.

- Será que você ainda escreve bonito?

Se beijaram no rosto e foram embora, cada um pra sua vida.

Ah..as memórias inventadas...ah...o passado idealizado.

Beijo com pinga.

Beijo com cachaça!

Beijo para borboletas e anjos.