terça-feira, 28 de agosto de 2012

lô borges

"Achei nosso nome na tempestade 
Numa asa cortada 
Ou na página do livro amor 
Na página que faltou 
Na poeira de uma bomba 
Será agora e saber.."

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pra que rimar amor e dor?


Para ler ao som de: Moro Na Filosofia – Caetano Veloso

Acordei às oito horas, mas em seguida voltei a dormir, óbvio, eu não queria acordar. Estava tentando esquecer o ato impulsivo que cometi na noite anterior, mas era fracasso, afinal, bastava eu fechar os meus olhos, para que o sonho repetisse a maioria dos elementos que meu ato envolveu. Sua casa suja, os móveis dispostos caoticamente, o vitrola ligada, o gosto de café com leite, teus lábios molhados, e eu, ali, no meio do teu quarto, rompendo com a harmonia insana daquele espaço. Eu, estática, e tão deslocada, e você sentado, esboçando um riso com o canto dos lábios, e tragando seu cigarro de palha, você esperava que eu falasse algo, afinal, eu entrei em tua sua casa. Veja bem a frase, eu entrei em sua casa. A minha mente parece que só consegue girar essas palavras. Eu entrei em sua casa, eram dez horas da manhã quando subi as escadas e bati na porta, eu sentia todas as minhas veias pulsarem.  E ninguém atendeu, respirei aliviada, mas pensei no que iria pensar no caminho (longo) de volta e me senti novamente ansiosa. De repente a porta se abriu, era você, era eu, era aquela casa, aquela luz de sempre, o sempre que não acontecia há dois anos e três meses, dois anos e três meses, escute bem. Você ficou me encarando como se esfregasse continuamente as lentes dos óculos, mas você não usava óculos, eu estava em um silêncio pleno, não conseguia falar incessantemente como era de costume, afinal, esse costume se perdeu com os anos, se diluiu com cada segundo de ausência que tivemos de encarar. E era você ali me olhando e eu do outro lado, você abriu mais a porta, não me convidou para entrar, mas eu entrei, fui direto no teu quarto, passei logo pela sala, não queria me perder ainda mais, e eu não consegui sentar na sua cama, o silêncio era ensurdecedor, não conseguíamos falar, você, como sempre, parecia tão bem, tão calmo, e eu, inquieta, com meus pequenos movimentos cortantes, roias as unhas, mordiscava a cutícula, até que o sangue invadiu os lados dos meu dedos, era grotesco, você então, rasgou o silêncio – você ainda faz isso? arregalei os olhos, ainda queria manter o silêncio, mas é claro que se havia feito aquilo era para te provocar, te instigar. Pensava em fluxos, ao mesmo tempo que queria arrancar sua roupa e engolir você, eu estava em surto, meu ar, como sempre, era escasso. Perceba que uso muito as palavras sempre, costumes, e o quão incoerente elas são, eu diria até, anacrônicas, talvez? Não existia mais contexto para eu dizer costume, costume envolve o cotidiano, e isso era o que nós justamente não tínhamos. Você apagou seu cigarro, acendeu uma erva, tocava Caetano, pensei em te tirar para dançar, mas não conseguia, me sentia presa em uma alucinação de ácido lisérgico, eu andava em círculos, e você parecia degustar aquela cena, não com raiva, nem com rancor, mas com calma, que sempre me irritou em você. Mas não conseguia pensar sobre o que você pensava, eu sempre fazia isso, mas ali, eu não conseguia, eu não pensava, eu engolia saliva e tentava voltar a mim, era o ácido, era o começo da viagem, mas céus, eu estava ali, eu sabia porque eu estava ali. Não fazia a menor idéia de quanto tempo estávamos ali, você girando na cadeira, e eu girando no chão, nos passos, tropeçando em passos falsos. Pra quê rimar amor e dor? De repente um ciranda de lembranças coloridas me envolveu, mas logo escapei, queria o agora, queria, naquele instante, o que sempre me servia de dimensão para eu pular, para eu voar, para eu fugir, o agora. Sempre usei o agora pra fugir, seja para viajar pelos fluxos de nostalgia, para inventar, ou quem sabe para eu me perder no futuro, mas ali, naquele instante, eu queria aquele pedaço de realidade, de ação que existia em mim. Então eu respirei fundo, encarei teus olhos, encostei minhas mãos nas tuas, puxei você daquela cadeira, você se levantou, não tirava meus olhos de você inteiro, você não parecia entender-muito-bem-o-que-estava-acontecendo, mas também estava imerso naquele espaço, segurei bem forte, sentia minhas veias quase estourarem, me acalmei, precisava me acalmar, eu queria uma voz calma, e eu respirei toda luz, deixei a melodia brincar de ciranda em meu corpo, pela minha circulação e eu te disse: casa comigo?

sábado, 18 de agosto de 2012

Ela.


Para ouvir ao som de: Os Povos - Clube da Esquina

Oi. Hoje acordei e estava um dia ensolarado. Sabe, acho que a verdade é que eu detesto esses dias lindos. Detesto sim, porque sei que você os adora. Porque sei que eram esses sábados ensolarados que eu vestia um pano qualquer e ia correndo pro teu jardim. E hoje eu acordei e voltei a dormir, e acordei novamente e voltei a dormir mais uma vez, e isso aconteceu de novo, mas tive de acordar alguma hora, tive de levantar da cama e olhar para o sol, olhar para essa luz insuportável que me faz lembrar todos os gostos dos nossos sábados. Eu estou bem, minha saúde está cada vez melhor, ando rindo bastante e me exercitando, mas esses dias ensolarados, esses sábados ensolarados rasgam o meu pulmão aos poucos e assim vou ficando cada vez mais sem ar. E eu me deito na cama e choro, choro tímida, choro para passar, choro porque não sei o que fazer com esse sol, porque não sei o que fazer com esses dias, com esse vinil que não para de tocar. Essa nova relação me assusta, sei que preciso me acostumar, mas ainda é tão difícil, ela é tão fria e tão distante, ela não me cobra satisfações e eu fico feliz com isso, mas ela não me escuta em nenhum momento, às vezes sinto sua respiração gelada antes de dormir, talvez seja o único momento em que sinto a presença dela mais concreta, de resto, ela ocupa o meu corpo, minhas veias, meu choro, mas não sabe andar de mãos dadas, nem sonhar, porém com ela, consigo escrever boas prosas e sambas tristes. Preciso me acostumar, ela é fria, mas nunca me deixa. Um dia desses, eu a encaro. Imagino-a alta e gélida. É a Solidão, com gosto de vidro e corte. A imagem dela se confunde com a da Morte. A música cessa e eu me levanto com ela. Logo, você se acostuma. Ela me diz em um sussurro gélido. Acredito. Logo, eu me acostumo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

antes das dez


o que é a tua vida, afinal? ontem sentei em um boteco e encontrei tantos....um moço passeava com uma pequena cadela, Laika, era seu nome. sempre doce. sempre amedrontada. só hoje eu percebi que o dono também vivia assim. já havia ouvido histórias de que andou bebendo demais, e tropeçou no caminho pra casa. ontem, hoje, seja lá qual dimensão, ele apareceu, foi simpático como todos os dias, mas todos notaram que seu rosto estava diferente, triste, destilando qualquer angustia e choro, todos falaram, ele sorriu, fez que concordava, deixou o cachorro comigo, enquanto foi apanhar um copo de suco de uva com vodka. todos reparam nele por alguns segundos, logos depois, já haviam retomado seus assuntos e diálogos, o homem, que teve um curto espaço de atenção, tentava terminar seu raciocínio, mas ninguém o ouvia, eu ouvia, e me senti mal por ele, e sentia raiva dos outros, e sentia raiva de mim. a tristeza era sua estampa. Eu pensava que talvez, eu gostasse apenas de ouvir e falar, e não pensar nas relações que estavam expressas ali, mas logo depois me achei arrogante e bebi outro copo de cerveja. após um tempo, fui dar uma volta, eu e alguns amigos leves, voltamos, o homem com a cadela estava com um diálogo em aberto, mas foi as pessoas voltarem para as suas antigas posições, para ele, novamente, falar sozinho. a cadela  tremia, minhas mãos estavam sobre ela, e eu sentia e também tremia. depois ele foi embora, cambaleando, senti ódio, tristeza, vontade de chorar, não sei bem, gosto dos olhos dele, depois, começamos a falar de amor, ah o amor, “a mais bela e derradeira repressão de si mesmo” como já diria Stirner. o moço, Bebeto, tão sorridente, alto, bonito, contando a história das duas mulheres, imaginei Bebeto namorando Rafa, imaginei um casal divertido, peculiar e cheio de vida, imaginei Bebeto conhecendo Juliana, menina bonita, imaginei Bebeto traindo Rafa, imaginei os pensamentos de Bebeto, as incertezas, a hora em que ele entrava no chuveiro e pensava em tudo isso, Bebeto terminou com Rafa e começou namorar Ju, depois de quatro meses percebeu que amava Rafa, terminou com Juju, e tentou por um ano e meio voltar com a Rafa, até descobriu novos nomes de flores, e fracassou. Juju gostava ainda de Bebeto, o moço pensou em desistir e saiu, foi pra Los Angeles com a Juju, era seu sonho, praia, vida nova, mulher nova, ficaram felizes, marcaram outras viagens, era tudo tão livre e leve, antes da viagem, havia ficado com Rafa, esta,quando soube que Bebeto estava do outro lado do mundo, surtou, sentiu a ausência rasgando sua garganta, mandou sinais de fumaça e Bebeto voltou. 40 dias depois ela disse que não gostava mais dele. agora Bebeto me contava isso rindo, mas fiquei pensando em quantas vezes ele pensou em suicídio. provavelmente nenhuma. Outra história escapou dos lábios alheios,a morena terminou depois de cinco anos, o mais velho não acreditava que fosse possível amar mais de uma pessoa, a morena comprou os móveis para o novo apartamento, afinal, eles voltaram depois de quatro meses, iam casar, ele, não voltava. sumia, ela voltou a odiá-lo, terminaram. – vocês se falam ainda? não. nunca mais. sabe, diante de tudo isso, eu enlouqueço deliciosamente, o amor...tanto..transbordamos tanto...hoje ouvi histórias tão tristes que sinceramente, me esqueci da minha, ainda mais pela maneira como foram contadas, com risadas e cerveja. talvez,de fato, eu seja muito sentimental.

beijos
Ana T.

sábado, 4 de agosto de 2012

frivolidades ensolaradas

Ler ao som de: Giz - Legião Urbana


às vezes eu ainda choro
bem pouco
às vezes eu ainda sinto muita saudade
não é nada compulsivo
é só meio triste
nesses malditos dias ensolarados
as coisas ficam um pouco pior
sei que você gosta de sol
além disso, cria-se uma expectativa tão chata
perante essas manhãs
todos tem de sair e aproveitar
e nos dias de chuva
nos mandam ficar em casa
assistir filmes
na chuva, eu quero sair (mentira)
no sol, talvez me esconder
eu sei, eu sei, estou sendo rabugenta
estou desanimada
com saudade
um pouco machucada
nada demais
estou cheia de preguiça
e sem vontade de fazer absolutamente nada
estou sozinha
sozinha
ha tanto tempo não sei o que é isso
a necessidade de ter alguém por perto sempre transbordou
contatos, ligações, beijos e mãos dadas (por mais que, em alguns instantes, eu detestasse algumas dessas demonstrações de amor)
às vezes eu gostava
muito
reparava no que ficava suspenso
ternura
reparava no que escapava
sentia

a solidão é fria
me sinto imersa em um caldo quente de emaranhados 
observo em silêncio
minha falta de ânimo
sei que logo passa
já estou tão melhor

mas ainda incomoda
esses pequenos choros
repentinos
me tiram do sério

mas tudo bem
tudo bem

"E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero
Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto,
Só um pouquinho infeliz..."

sei que você não gosta de renato russo
mas cabe muito.

um grande beijo
um pouco amargo
um pouco triste
mas nada que mate