segunda-feira, 22 de outubro de 2012

que saco cheio
ele dizia
não havia a menor vontade
nem dele nem para com eles
os laços haviam se desfeito, enfim
chega
já não gostava mais dos risos
nem dos toques
a pele não transbordava mais nada
tempo de reclusão
ele pensou

estou tão cansado
pra vocês
mas ando cheio de vontade
pra mim

então
foi embora
e não escreveu nem ao menos
um bilhetinho
chega dessa história
sem endereço e sem cartão postal
quero mais é me esquecer
passar por essas ruas
e não sentir nada além
de repulsa
- cansei mesmo
todos enxergam
todos calados
esperando que ele vá embora logo

lembrou de mário de sá carneiro
"Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que protejo:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projeto."

gritou alto
e foi embora
sem insetos gordos
sem meios sorrisos
sem nada pela metade
ausente
enfim

-chega.


babaca

assim
só pra tirar da boca
ela disse
- babaca
- você não está entendendo quase nada do que eu digo
- e nunca entendeu
- babaca
ela disse mais uma vez
e lembrou do livro "Vida Secas" de Graciliano Ramos, sabe-se lá pra quê por quê
- é chucro, não sente
só grita
nem isso

- babaca

e foi embora
cuspindo no chão
e sem olhar pra trás
pelo menos, dessa vez


sábado, 20 de outubro de 2012


é você quem vem
com teus corpo
sem gosto
e eu sempre caio
na tua

e depois
grito sozinha
sozinha
porque você percebe que ainda exerce
qualquer tipo
de afeto
e vai embora
já se sente seguro novamente

e pode continuar
por ai

sábado, 6 de outubro de 2012

café requentado


eu não aguento mais
eu já não suporto as culpas
os pensamentos tortuosos
os sonhos conturbados
não aguento mais a espera
nem a falta de ar
me pego sempre pensando naquele filme
que você não assistiu
eternal sunshine of the spotless mind
vejo aquelas cenas
e tenho vontade de fazer exatamente aquilo
apagar cada segundo
apagar parte me mim
matar
estilhaçar
pra não sentir mais nada
nem um fração sua no meu corpo
já não me lembro sua voz
nem o cheiro do teus cabelos
éramos tão lindos
sei que aqui destilo idealização
mas éramos lindos
com nossos cabelos ao sol
a luz
não sei mais como está seu quarto
a pequena pia
a escova de dente que você insistia em guardar em uma caixa de pasta
velha
já não sei como estão suas canecas
se você as quebra ou não
já deixamos claro um pro outro
que nos odiamos
profundamente
eu sei que você nega
eu também
mas sabemos que é isso
e isso me mata
hoje
acho que choro por isso
choro porque de algum modo não consigo te tirar de mim,
não consigo matar teu ódio
nem estilhaçar o meu
mas hoje morro principalmente
porque sei que o nosso ódio é mútuo

terça-feira, 2 de outubro de 2012

vinte e dois


era hoje
o dia
nada mudara desde seus vinte e oito anos
e finalmente era o dia
todos estavam feliz
a mesa repleta
ela ainda pensava nele
- aquele idiota
tantos anos sem trocar uma palavra
ele se quis presente
mesmo tão ausente
ele quis atormentá-la
afinal, ela merecia
palavras
afeto fingido
falso
da boca pra fora
ela não resistiu
apesar da leveza que escorria em tua pele (por pouco tempo)
mandou uma carta
com seus pulsos cortados
e algumas tripas
ele
percebendo que ela ainda o amava
que ela ainda pensava nele todos os dias de sua vidinha medíocre
respondeu sem medo
parabéns
parabéns
apenas isso
e mais nada
tudo o que você espera
de um grande amor


nem chorar
ela conseguiu
engoliu por fim
a última dose do amor medíocre
que lhe cortava