quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tentativa.

Ando meio enjoada das minhas escritas, minto, não ando enjoada, apenas estou comparando textos antigos com os novos, creio que perdi muito do meu lado objetivo e narrativo, não que isso seja ruim, estou apenas ponderando, ultimamente escrevo de maneira extremamente subjetiva, milhares de reticências, pontos sem explicação, frases sem ponto final, entre outras pequenas manias.
Sim, claro, conheci Caio Fernando Abreu, na realidade, parecia que sempre o conhecia, ele estava mais em mim do que eu pensava, me viciei em cada palavra dele, achei a intensidade que me faltava, achei a audácia, fui me tornando menos puritana com as palavras, fui respirando seus livros de maneira um tanto ofegante, me debrucei em suas paixões, procurei pela intimidade, cartas, desejos, histórias e tristezas, e achei nele, mais de mim mesma, porém, com isso, meus textos vem carregando tal marca, uma loucura lúcida, que seja, palavras sem nexo e sem vírgula, não, não acho ruim.
É necessária essa entrega plena, mas, confesso que tal maneira de escrever, acabou me deixando um tanto estática diante das provas e trabalhos na faculdade, girava a caneta, respirava, pensava em algo desconexo, e a partir disso tentava formular um pensamento concreto.
Ora, quanta loucura, eu querendo tirar de mim, o que me torna eu mesma. Mas será que é só isso que me torna Raquel? Acho que essa idéia de “minha marca”, “meu jeito” e “minha maneira de escrever” me deixam um pouco amedrontadas, me sinto presa em mim mesma, quero tentar outras coisas, misturar, transcender, mesclar o que eu faço hoje com algo do passado, resgatar o que há de bom. Sim, é meu jeito, é a maneira como escrevo, óbvio que isso só é assim, pois passei por inúmeros processos, ainda passo, e é por isso que estou em constante mudança, o processo não tem fim, está sempre em movimento.
É evidente que preferimos uma coisa a outra, uns são mais abstratos, outros detestam assuntos sobre cosmos e afins, temos os amantes da poesia, “eu ainda falo versos e não fatos”, e os que são apenas indiferentes, um aprecia uma maneira de escrever diferente do outro, seja por facilidade, inspiração ou técnica, mas não é por isso, que temos que nos ater apenas ao o que sabemos fazer com destreza, creio que necessitamos de constante mudança, exercitar a mente, jamais deixá-la estática, com ações mecanizadas.
Se entregue ao que te de prazer, claro, permita-se ao vício, horas do mesmo livro, do mesmo autor, escreva dias sob a influência do mesmo, mas, que tenha audácia de não permanecer estático, mecanizado, desconstrua-se, eu preciso fazer isso, ser atrevida, audaciosa, escrever de uma maneira que não me sinto tão dona das palavras, creio que com tal ação, levamos novas idéias para o que já estava se tornando mecânico.
É exatamente isso, que deixemos nos permitir ter a audácia de desconstruir a idéia de que somos geniais, fazendo justamente o que não somos bons, e através desse movimento, desse exercício, o novo inspira e agrega ao antigo.

Céus! O ano está acabando né, sempre existe aquela coisa de ponderar o que estamos fazendo e blá blá blá.

A citação que apresento no texto é de Maiakóvski.

Câmbio/Desligo
Raquel

sábado, 20 de novembro de 2010

as cartas que eu não mando

No Rio de Janeiro, hoje é vinte e três do três, faz um calor insuportável, as pessoas andam pela orla da praia, dezoito horas e trinta e sete minutos, o sol ainda suspira, a moça ainda está na deitada na areia, e o namorado joga vôlei, paira um perfume gostoso no ar, um vestido amarelo da cor do seu cabelo, fim de tarde bonito demais.
Alguém passa cantarolando balada-do-amor-inabalável, na calçada, os dois sentados, ela toma um suco, ele observa, Ana usa um vestido azul da cor do silêncio, ele não fala muito, é tudo tão nostálgico, essa coisa que o passado é sempre mais belo, essa coisa de não nos ater as lembranças amargas, existe um filtro, talvez seja bom.
Ela sorri, encosta a cabeça no ombro dele, ele parece um pouco acuado, assustado, faz tanto tempo, tanto tempo, será que já fez o bastante pra esfriar tanto? Não. Ele faz carinho nos cachos dela, ela fala bastante, e não fala nada, ele destila palavras que remetem ao tempo em que dividiam a mesma cama, as frases pesam o ar, ela olha triste, olha nos olhos dele, ele encosta a cabeça no ombro dela e tem vontade de chorar, mas não chora.
Ela começa cantarolar mesmo-que-a-gente-se-separe-por-uns-tempos-ou-quando-você-quiser-lembrar-de-mim-toque-a-balada-do-amor-inabalável. O desencanto desaparece, ele sorri daquele jeito, aquela risada, aquela risada dele, específica dele, toda dele, só dele, Ana termina o suco e aperta as mãos do moço, as palavras são leves, dançam no ar, como a conversa, que apesar de ser feita com bastante silêncio, flui toda bonita, toda sincera, toda os dois.
Ele olha pra boca dela, ele olha pro pingente dela, e retoma aos olhos, e depois de um suspiro quase sorrindo fala assim, sem censura:
- Foi tão gostoso conversar aquele dia.
Ana arregala os olhos, e meche nos cachos, depois no pescoço, e por fim as palavras tropeçam e caem no ar:
- Sério? Achei que você me acharia estranha e ficaria perturbado.
Antes que ele falasse algo, a moça continuou:
- Foi gostoso mesmo; quando você falou comigo...fiquei tão sem ação.
Ele sorriu bonito e concluiu:
- Olha, estranha você já é, e perturbado eu também já sou, então a gente não tem nada a perder.
Ana olhava..olhava..queria falar sobre aquele diálogo, queria contar as idéias sobre fazer uma cena de teatro, cinema, que seja, talvez poesia, isso, poesia! Mas as palavras não queriam pairar no ar, o corpo gritou mais alto, ela o abraçou, ele não entendeu, mas o corpo também gritou, e depois de tantos anos, estavam se abraçando, estavam se abraçando, estavam se abraçando, eles estavam se abraçando, no dia vinte e três do três, naquele calor insuportável, ela de vestido azul e ele com aquele olhar, que certamente foi inventado pela memória. Não importa, só sei que eles se abraçaram por tanto tempo que acho que até hoje ainda estão lá...naquele abraço que demorou tanto tanto e tanto e não parou mais.

Ana T.

sábado, 13 de novembro de 2010

Era dia, era sol, era um trem das cores, tantas frases escritas com aquela caneta azul, o caderno típico, personagens e outra cositas mais, conversavam sobre nem sei o quê, sobre o azul celeste celestial, Ana ria, fechava os olhos, acendia outro cigarro, e observava todos que ali fumavam, tocava a fumaça com o olhar e sentiu frio, a noite vinha, a chuva apareceu despercebida, a conversa continuava sem presa.
Estava indiferente, apesar do sorriso, estava em silêncio, em um silêncio distraído, ás vezes pronunciava algum silaba, mas não expressava tristeza, Ana estava um pouco enjoada de si mesma; acontecimentos típicos do cotidiano, erro, ruído, caos e outras cositas mais.
O cabelo despenteado, a blusa antiga, tomava um chá gelado, tragava, fitava a fumaça, Ezequiel ria bastante, falava em alto e bom tom, com as mãos, com a boca, com o corpo inteiro, Ana queria-qualquer-coisa-que-fosse-diferente-daquilo-apesar-de-não-ter-motivo-pra-tal, mas desde quando precisamos ter motivos? Pensava ela, entediada, não da situação, mas dela própria, Ana bocejou, nada era lindo, nada. Sem tesão, sem vontade e sem apetite, só queria outro cigarro, mas havia acabado, sentia um cansaço por nada, por falta de alguma-coisa-qualquer-que-não-sabia-o-que-era, crise existencial? Ah, não.
Os ratos soltos na praça, os olhares sorrindo, as frases soltas sobre uma beleza aleatória inexistente, inexistente pra Ana, mas todos insistiam em dizer o contrário, ela infelizmente respondia com o silêncio, ora ou outra mordia os lábios ou suspira fundo, queria sair de lá, gritar bem alto e sentir dor, mas não, estava estática, naquela pose tediosa, estava inquieta, mas queria expressar uma face serena, era patético, e Ana sabia.
Em certos instantes, ela sorria, aquele perfume dele no ar, ora a pele encostava-se à dela, pensou até que iria escrever, escrever coisas geniais, literárias, sinestésicas, e blábláblá, mas não, era ilusão pura, pura ilusão, fazia tanto tempo que não escrevia nada, nada, nada, aquela tela branca ficava encarando o rosto de Ana.
Segundos, segundos, tic-tac-tic-tac, parou a chuva, vamos embora, está ficando tarde, ah que bom, carro, trânsito, inferno, certos comentários ecoavam, um desencanto na garganta consigo mesmo, frases também estavam por lá, frases ásperas, frias e secas. Estava calada, alguém perguntava pelo seu silêncio, ela sorria, é sono, claro.
Despedidas frias, não era praxe, desceu do carro, caia um sereno, andou depressa até o prédio, não cumprimentou o porteiro, subiu até o segundo andar de escadas, procurou as chaves parada na frente da porta, sentia raiva, entrou em casa, estava em seu quarto, não tinha mais ninguém, os livros, achou o caderno, caderno vermelho, folhas tão bonitas, desenhos, escritos, poesia, não era lindo, não era nada lindo, era triste, desesperado, arranhava o corpo inteiro, sentiu raiva, muita raiva, e pensou em rasgar todas aquelas folhas, uma por uma, imaginou o depois, a tristeza, o desespero, mas mesmo assim, o impulso concretizou a idéia.
A primeira folha foi com ódio, parecia cortar a pele, a segunda teve vontade de chorar, mas gritava em silêncio que era patética e tola, aquele papel picado no chão, mais de dez folhas rasgadas, histórias, delírios e tanta tristeza, assim, no azulejo de tédio, não era nada lindo, nada era lindo, era tudo tão cinza e cheio de dor.

Ana T

Será que ficou meio incompleto? Desde quando as coisas têm fim?
Câmbio/Desligo

sábado, 30 de outubro de 2010

"Estou me confundindo, estou me dispersando." Caio Fernando Abreu.
mas não, ai vem o cosmos e muda tudo, me dá uma puta vontade de viver. ainda bem.
Que seja doce!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Formato Mínimo

Para Ezequiel:

Ela estava sentada na cadeira, de uma maneira peculiar, com um cigarro aceso, vendo toda aquela cena conturbadora.
ele ria dela ou com ela, nunca sei.
o som era mutantes e a bebida café, a caixa de biscoitos ainda estava fechada.
ela queria fumar e ficar delirando a tarde inteira, ninguém sabe ao certo o motivo.
ele queria......bom, deixe ele falar.
escrever era a única maneira que ela achava de se sentir viva.
viva por inteira.
depois começaram a dançar, uma valsinha..seja do Chico ou qualquer clássica, e a tarde inteira riu para os dois, cairam na cama...a chuva fez do sono sereno, e dormiram sem nada, sem medo e sem roupas.
acordaram sem saber o nome um do outro, assim era melhor.
nada idealizado, nada de contos e histórias prontas.
ele lavantou primeiro, declarou-se dela o súdito.
a tragédia estava feita.

pois é, a história é nossa, que bom.

beijo da Ana T.
ps: Inspirado em uma música do Skank, chamada Formato Mínimo.
Foto: quarto místico, cores e cores e cores e cores e cores e cores e...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

pontuação nula

Agora cadê não sei por que neutralidade não existe eu sei onde estão teus olhos falta de concentração não sei o que fazer esquecer fugir não é possível quando enxergamos uma vez é impossível fechar os olhos com tranqüilidade cadê você cada vez que essa porta abre é uma mentira eu sei será que te dou meu silêncio ou expresso minha vontade da tua não ausência cadê você porra vontade de desintegrar toda essa sua lógica acadêmica leia Alberto Caeiro e pára de ter medo do meu corpo não vou mais olhar é inútil não não é mas você gosta desse teu inferno adora essa porcaria de inferno espaço físico você não precisa permanecer no mesmo porra é necessário MOVIMENTO mas você é masoquista sai desse lugar mas não você precisa disso então aproveite essa loucura baseada no teu orgulho infundado não não vou olhar pra você nem ponto final nem exclamações essa porra dessa tua máscara por que você insiste nisso as perguntas não tem interrogação você não é isso nem é aquilo agora enxergo ternura e não posso ver não quero ver não quero ser senhor de mim mesmo enfim detesto pontuações e suas generalizações a maneira como a tua voz fala certas palavras é de se apreciar e ao mesmo tempo detestar como consegue ser tão contraditório teu corpo sofre o meu raciocínio pode não ser lógico mas não insisto em algo que não possui relevância então me explica o motivo de você ter puxado meu braço com força e questionado o motivo da minha certeza EU GRITO qual é a relevância DISTO PRA VOCÊ e eu faço tudo errado falo coisas sem sentido não precisa não é necessário e eu insisto em sentir essa perturbação porra quanto arrependimento homeopático não sei o que fazer faço e erro se não falo falta o ar mas nunca sei o que falar sem pontos você não me escuta não me entende eu te interrompo todos os segundos com olhares de discórdia você finge que não vê você com esse teu olhar indiferente que quase nem olha mas eu sei que quer olhar mentira não quer ou quer que diferença faz nenhuma alguma besteira idiota impulsiva você vai acabar não me olhando de verdade chega não existe eu invento idealizo e esqueço de acordar

ahm inspirado em um conto do Caio Fernando Abreu que novidade

sábado, 14 de agosto de 2010

Fracasso.

Oi, você não atende o celular, é, eu sei, você perdeu o celular, mas eu gosto de ouvir o som do seu telefone tocando, é uma ilusão tão besta, que de repente vou escutar sua voz, sua voz doce, cheia de ternura, mas ele só toca, ele não atende nunca, e eu sei disso, mas continuo te ligando, te ligando, te ligando, e eu sento no chão e choro, choro, choro porque me sinto uma frustrada, por sentir tua voz indiferente, por não ouvir tua voz, por imaginar as cenas mais absurdas possíveis, e eu tento novamente, disco seu número, eufórica, dessa vez você vai atender, e vai rir, falar do seu café, do céu bonito, eu vou rir, falar de poesia, a gente vai desligar, e eu vou sentir teu cheiro, mas não, você não atende, ele só toca, toca, toca, e eu quero que ele toque, porque assim eu me sinto mais próxima de você, do seu corpo, da sua boca, mas é mentira, tudo é mentira, é uma ilusão idiota, e o meu telefone não toca, não toca, ninguém bate na porta, mas eu escuto, eu escuto teus passos, vejo tua sombra bonita, e escuto sua voz, a maçaneta girando, vou até a sala, não tem ninguém, mas eu sinto, eu quero sentir, quero te ver, abre a porta da sala, você tem a chave, me abraça e não fala nada, não me deixa pensar em nada, me beija, me beija, me beija, me segura forte, por favor, não deixa eu escutar os gritos, por favor, não me deixa mentir em silêncio, mas não é você, não tem ninguém, eu sinto teu cheiro, teu corpo, tuas mãos deslizando no meu, por favor, abre a porta do meu quarto, anda com presa, me beija no rosto, quero uma margarida, quero teus beijos, mas não tem ninguém, e eu sento no chão, fumo meu último cigarro lendo o Pessoa que você me deu, desisto, te ligo novamente, e toca, toca, toca, eu quase escuto sua respiração, mas não atende, não atende nunca, nunca, nunca, e eu tento outra vez, tento depois do banho, sei que você vai atender e falar que já está chegando, não, é mentira, mentira, ilusão, frustração plena, ninguém vai chegar, teu telefone não vai atender, então me diz, pelo amor de deus, por que eu não paro? E tento, tento, tento, tento..até você atender...até eu escutar tua voz, mas isso não acontece nunca.
Nunca.
Ana T
Inspirado no conto "Além do Ponto", de Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pontuação Falha.

Sabe, hoje de manhã indo pro metrô, eu quase chorei, senti saudade, pois é, coisa boba né? Ventava tanto, tanto, uma garoinha típica, senti tanto frio, andei sem pressa como quem finge que tem pressa, eu queria chorar, mas não conseguia, como diz um amigo meu, o ar estava preso nos pulmões, tudo gritava, tudo era igual, sabe, acho que eu só consigo escrever a mesma coisa e acho que posso escrever sobre tudo, vejo poesia em tudo, vejo intensidade naquele moço dos olhos verdes, no jeito como a garota recusa o olhar alheio, isso deixa a gente louco, pira sabe?
Não acho as chaves de casa, perdi tudo, perdi o ânimo, agora me vem uma sensação estranha, de comodidade, ou seria desencantamento total? Ah, tanto faz, sabe...tanto faz, hoje você tem aquela sintonia de baunilha, hoje você quer o corpo dele, as risadas escandalosas, o maço de cigarro, mas logo tudo passa, tudo dissolve nos meus olhos, na minha mente, não agüento mais as lembranças, eu as quero tanto, mas doem, ardem, queimam, elas vão sumir, é tão acaso, era eu quem estava sentada lá, mas poderia ser ela, ele, eles, é tudo tão substituível, não tem importância alguma, nada é eterno, me dá um cigarro? Ah, esquece vai...senta aqui, vamos ali tomar uma cerveja e discutir aquelas coisas que parecem tão fantásticas, filosofia de calçada, amores platônicos, vamos exaltar a voz, rir, olha o desespero total de todos, olha aquele olhar perdido, a voz alta, as palavras chulas, o rosto expressa medo, medo dessa loucura sem fim, ah, chato o assunto né? Melhor ir dormir..desiste da cerveja, não estou uma boa companhia hoje...me desculpa...acho melhor eu deitar...ler um pouco do Caio e tentar dormir, se bem que a insônia não me da sossego, mas mesmo assim, pare de falar comigo, de me escutar...eu já falo tudo sem sentido, imagina agora...ah, tudo bem, sem problemas, é..eu sei...falo um pouco depressa mesmo...bom, vou tentar achar as chaves de casa, vou tentar me achar nas linhas daquele caderno velho...não, não precisa ir comigo, eu sempre vou sozinho mesmo..eu sempre durmo sozinho, ah, não precisa ficar com essa expressão, eu gosto da solidão, nela eu sempre me encontro.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Apetite De Si Mesmo

“Platão, Sócrates, Filosofia, hiato, Política e teus beijos musicais cheios de sinestesia invadem sem pudor a minha tão idealizada linha de raciocínio.
Teu gosto insiste em pairar entre as frases, meus arrepios insistem em me desconcentrar, desconsertar, e eu danço, danço, danço em um jogo de provocações, de olhares cheios de persuasão e malícia, eu solto meus braços e tento cair em queda livre, mas você insiste em me se segurar, te empurro, te puxo, te mordo e te arranho e não sei mais o que fazer, me perco nos sentidos, a respiração me denuncia, e as divergências entre tantas personalidades me assustam em um abismo cheio de medo.
Estereótipos estilhaçados, me aproveito de alguns, só para te arrancar aquela expressão de extrema ausência da razão, com aquele olhar perdido e um sorriso amedrontado cheio de malícia.
Infinitos pensamentos sem lógica gritam em minha mente, pensamentos cheios de melodia, cheios de vozes, medos, eu grito mais alto, peço que parem agora, já não agüento mais, me sinto ardendo, como os personagens do seu conto que você queimou com aquele cigarro que te dei, fecho os olhos, o silêncio finalmente existe, mas ainda assim o barulho é ensurdecedor, agora vejo fantasmas sussurrando loucuras obscenas em meus ouvidos, meu corpo não tem mais força, a respiração falha, a mente deliria e me faz duvidar da realidade.
Estilhaços no chão, no meu pulso, sinto dor, é vermelho, me liberto, mas você insiste em me tira da lá, me abraça e me beija, como se eu fosse uma criança perdida dos pais, mas não sou, e você sabe disso...só preciso que você me arranhe com toda sua força, me deixe cheia de marcas, não se amedronte pela minha expressão frágil, você sabe exatamente do que eu gosto, vou pedir para que me segure bem forte, para eu tentar fugir, mas não deixe, não deixe, me prenda com teus braços, não tenha medo dos meus gritos desesperados, eu gosto de tudo isso, dessa loucura que sinto perto dessa sua expressão de indiferente.
Grita comigo, pára de ter medo, leia Nelson Rodrigues, rasgue todas as minhas roupas com as mãos, os dentes, me jogue na cama, no chão, quebre os copos, o porta retrato, deixe os cacos no chão, deixe que eles me cortem, que eles nos cortem por inteiro, deite comigo, preste atenção na minha expressão, o lábio vermelho, os olhos molhados, o corpo pálido, poucas roupas, o que cobre é rasgado, e olhe pra você...adorando tudo isso, encarando o teu sadismo e o meu masoquismo de perto, olha o teu sorriso irônico cheio de prazer, olha o meu sorriso cheio de sinestesia, cheio de terceiras intenções, e eu te puxo pelo cabelo com a boca um pouco aberta e te beijo, te beijo, até você não agüentar mais, beijo teu pescoço, mordo teu ombro, arranho você inteiro, deito em cima de você, e faço aquela cara de inocente com olhar dissimulado, você não agüenta, mas não pede pra eu parar, a tua respiração é que te denuncia agora, não só ela, haha, até que consigo exatamente o que eu queria, você me pega pelo braço, sem medo algum de me machucar, inclusive me fazendo sentir dor, me joga no chão, cheio de cacos, e começa me beijar com força, me arranhar inteira, me morder até eu não agüentar mais, mas eu sempre agüento...haha, e vira um dado viciado, um ciclo vicioso, um conto circular, o infinito...deitados, sem ar, sem roupas, sem razão, sem vestido vermelho, sem moral, sem violão, sem ética, sem realidade, sem dignidade e tão..tão livres.”

Ana T.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Futuro Com Gosto De Amora

Para meu Tango preferido:

Mas que vontade de viver que me deu, sentada aqui nessa mesa, fumando o meu cigarro, vendo você fazendo teu café, aquele cheiro pairando pela casa, nossos livros na estante, o Dom Casmurro com a dedicatória antiga, os móveis antigos, o sofá todo arranhado por causa da gata e a nossas margaridas cheias de ternura.
Pois é, lembrei-me de uma conversa que tive com um amiga, assim, falando da vida, do futuro, das vontades, nem tudo foi como imaginei, nem poderia ser, perderia a graça, ontem ela veio aqui, tomamos um suco com a hortelã da minha horta, ela riu do meu vestido, um sorriso gostoso, esperei tanto por ele, acho que até coloquei aquela roupa de propósito, só pra ver aquele olhos sorrindo.
Ela é tanta coisa, ela escreve, tenho até uma coluna na revista dela, chamada: entre devaneios, loucuras e prazeres. Carolina se formou comigo, ela foi pro jornal, eu para o cinema, não que seja assim sempre, mudamos constantemente para não deixar a monotonia nos invadir, ela não tem permissão pra isso.
Já escrevi roteiros, tentei fazer alguns curtas, falta patrocínio, a moça fala: “Não fica parada, sai dessa casa, você tem idéias tão insanas, mas com aquela pitada de serenidade..não pode desistir dos teus filmes!”
Sabe, eu não desisti, mas fico, sento, escuto, faço até cara de séria, mas no fundo ela sabe que eu sou meio assim, quando me dá vontade eu sumo por uns tempos a apareço com alguma novidade. Ah, dou aula em uma faculdade aqui perto, não foi fácil, ainda não é, a primeira turma sempre me assusta, ainda mais com essa altura que tenho, céus, me sinto tão menor.
Gosto das terças e quintas, faço um trabalho voluntário, um projeto para incentivar a leitura, falo com crianças, adolescentes e idosos, é gostoso, aprendo tanto com eles, fiz grandes amigos, tem uns que não são fáceis, também..com tanta coisa difícil, outros são tão cheios de ternura, apesar da vida que levam, tem até quem se esconde atrás da leitura, já vi até casos como o do seu João, sessenta e cinco anos, foi pedreiro por 30 anos e se transformou em um leitor compulsivo, apresentei Vinicius de Moraes pra ele, nossa, agora ele declama poesia o tempo todo, tão bonito isso.
Carolina já escreveu sobre tal trabalho, ficou entrevistando o pessoal, foi engraçado e gostoso, ela teve que dormir em casa, ficou espirrando por causa dos pelos da gatinha, enquanto ela fazia as entrevistas, eu filmava, tem que ter cuidado sabe? São pessoas muito humildes, não se sentem muito tranqüilas diante uma câmera, parece um pouco ameaçador e desde quando não é!?
Ela ficou acordada durante toda madrugada, lendo, escrevendo, eu levei um café com um pão de queijo bem gostoso, ela me deu um abraço e isso bastou, fui dormir tão feliz.
Deitei na cama, mas não conseguia não pensar em tudo, levantei e fui lá atrapalhar a concentração dela, nos falamos dos amores platônicos, achávamos que eles ficariam calados no passado, ah, quanta besteira, eles voltam sempre, nos assombram e nos surpreendem, ela mesma, tem tanta coisa pra contar, lembramos dos conselhos, das vontades, ela ria muito e falou: “Quem está dormindo na sua cama com você hoje? Não falei que ia ser assim?” Eu ri né, também tive as minhas doses de certeza para fazer piada com a expressão dela!
Pena que ontem ela veio tão rápido, cheia de trabalho como sempre, não pode tomar café, mas ignora, pelo menos agora que também sou vegetariana ela adora comer aqui em casa, mas nem quis almoçar, tinha reunião nessa cidade caótica que eu morro de saudade, ainda volto pra lá!
Sabe, te digo que certas coisas não mudam, ela ainda se irrita comigo, eu ainda me irrito com ela, mas que bom, porque se não fosse essa irritação as minhas noites não renderiam nada, não teria o que escrever, não teria inspiração, ela me oferece trinta e três mil sensações, sinto falta do macarrão com muito queijo, mas a próxima vez que Carolina aparecer por aqui, faço um novo, com um tempero divino, haha!
Bom, agora preciso encerrar esse texto por aqui, preparar uma aula e assistir uma palestra dela na Cultura!
Câmbio/Desligo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ana T

A Ana

A ana disse ontem
A ana ficou triste
A ana também leu
A ana não existe

É a ana insiste
A ana não consegue
A ana inventou
Ela também merece

A ana é azeda
Mas é doce quando é doce
A ana é azeda
Mas muito doce quando é doce

A ana nada sabe
A ana sempre canta
A ana me enrola
A ana me encanta

A ana se pintou
A ana não limpou
A ana que escreveu
A ana se esqueceu

A ana é azeda
Mas é doce quando é doce
A ana é azeda
Mas muito doce quando é doce


Foi a ana que fez
Foi a ana que foi
Foi a ana em fá
Foi a ana, foi

A ana ama
A ana odeia
A ana sonha
A ana canta

A Ana [Ana Canãs]

terça-feira, 1 de junho de 2010

A República.

Apetite de si mesmo
Desejos intermináveis
Inacabados como todos nós
Levando-nos para essa ausência de sentidos.
Sou um ébrio, cheio de insanidade eterna
Meu prazer é pura tirania
Sou seu senhor de escravos
Não possuo proporções
É libido, heresia, distorção
Felicidade eu não encontro
É minha sina de tirano.

[texto feito na aula de Política, aula intensa, intensa e intensa.]

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Lua e café com leite ?

Faz um café com leite pra mim? Coloca um Mutantes ao fundo só pra eu poder reclamar que é a mesma música de sempre? Ai eu posso sentar na bancada e ficar observando cada ação, cada sorriso e a maneira como você se movimenta, eu queria mesmo é poder desenhar tudo isso, desenhar com uma tinta eterna.
Só o teu café com leite é bom, adoçado da maneira certa, acho que me lembra um pouco a casa da minha avó, as xícaras bonitas, o leite com nata que ela insistia em dizer que não tinha e eu quem era uma fresca! É bonito ver você colocando açúcar na minha caneca, sorrindo com o cabelo caindo nos olhos, é dono de movimentos seguros, procura o isqueiro, acha rápido, não perde nem cinco minutos.
Ai você senta comigo na bancada e fica me olhando, fica aquele silêncio gostoso por alguns segundos, passa aqui, passa ali, a gente ri um pouco, chora, chora tanto, faz teatro sem público, as conversas não possuem ponto final, as frases são inacabadas, uma palavra aleatória puxa aquele assunto que não terminamos ontem, que ficou pra hoje, estranho, mas já me sinto uma velha amiga tua, pois é, deve ser porque eu sou.
A lua enfeitava meu café com leite, sentei pra escrever e ela sumiu, ficou a lembrança, a nostalgia, nostalgia da gente rindo, sentados na escada em outra dimensão, percepções aguçadas, realidade distorcida, você..você...sempre aqui..ou eu quem estou sempre ai?
Ficamos um tempo nessa escada, dançamos uma música que logo acaba, você me pede para que eu não sente na mureta, olho para baixo e não sinto medo de altura, meu coração dispara, sinto em minhas mãos a pulsação dele, você me falava que sabia que iria chover hoje por causa das nuvens, eu dou risada, você me explica a paisagem, eu entendo e falo sobre a via láctea, eu te olho com aquela cara, nos levantamos e voltamos, tua cama, teu quarto, nunca me senti tão presente como agora, nunca tentei decorar tanto a posição dos poucos moveis e para onde seu olhar fita, eu deito, apaga a luz, sinto seu cheiro e me aconchego em você.

Ana T.
Sempre Ana.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Doce Dose Doce.

Preciso do seu rosto
Da sua simetria rouca
Da sua voz arrastada
Da sua roupa rasgada
[...]

Ana T. [?]





quinta-feira, 22 de abril de 2010

Relatividade?

Ela com febre, a voz já não existia mais, os olhares falavam sem pudores, o sorriso não conseguia sair dos lábios.
Já que eles não conseguiam se encontrar na realidade, inventaram uma dimensão própria, paralela e pouco conhecida.
A febre continuava, o medo e o nó na garganta pairaram entre os corpos dos nossos personagens, mas era preciso uma dose de adrenalina para eles, que vinha sempre acompanhado de um cigarro e uma grande movimentação das mãos.
Escuro, garrafas quebradas, que que é? Com o tempo, a melodia da situação embriagou os dois, extasiados, andavam rindo, olhando para o alto e dançando com as sombras de si mesmo, perdiam-se propositalmente, quanto mais distante da realidade monótona, melhor.
Sentaram, olharam toda aquela imensidão sem sentido, caótica, e enxergaram beleza, devanearam, relatividade, por que não? Passado, presente e futuro, em círculos, túneis de sensações, era como se tivessem sentados em um banco dentro de um trem, trem para as estrelas, trem que corria, diferentemente das conversas, que pareciam sem presa alguma, espelhos em toda parte, em todos os vagões, e através deles, nossos personagens enxergavam seus respectivos passados, atormentados com tantas lembranças, correram, procuravam pelo futuro, mas não encontravam, correram mais, não queriam ficar acorrentados a nostalgia, até que um espelho refletiu as personalidades delirantes de cada um, trocaram algumas palavras, poucas, quase sussurravam para o outro lado do espelho, pararam então de procurar um futuro estático, saíram correndo daquele trem, pularam no chão, caíram, e riram demais, estavam sem dúvida, colocando em prática o conselho dado, que consistia em escrever o próprio futuro, e ela escrevia, nas páginas em branco do corpo dele.
Acordaram deste delírio e já estavam em outro, tropeçando entre tantas loucuras, se beijavam com sede, se abraçavam por inteiro, riam, giravam...giravam...a noção de espaço estava totalmente conturbada, entre tantos giros, os lábios acabavam se encontrando, saíram dos círculos e com certa dificuldade, tentaram andar em uma linha reta, ah..fracasso!
Precisavam de água, álcool, andaram, acharam e ficaram muito tempo naquele conto, falaram sobre eu não sei o que: identidade, carteiras, sono, que que é? Mais um copo, mais uma garrafa, é a última, eu juro, vem mais perto, esse é o sorriso, que sorriso? Silêncio..silêncio, que delícia de som, rosto, traços finos, aranhões que arderiam durante toda aquele eternidade que durava frações de segundos.
O dia já dava sinais de vida, aquela sensação estranha pairava, de fim..final..saíram como sempre tropeçando em suas próprias loucuras, se beijavam como se só existisse aquele instante, e realmente, era fato, esqueceram que eram observados, se abraçavam com intensidade, aquele dimensão estava prestes a acabar, pelo menos desta vez, andavam abraçados, não queriam ir embora, ouviram frases sobre o amor, faladas por uma cigana que não tinha nada de dissimulada, riram, talvez ficaram um pouco envergonhados, ou não, era intenso, chegava a faltar ar, o lábio, a textura, o ouvido, o pescoço, era harmonia dentro de uma desarmonia, se jogavam na perde, mordidas, queriam um gramado, acharam um gramado, fizeram um gramado, deitaram, era surreal, olharam os prédios de uma maneira tão diferente, a grama era macia, ela deitou no ombro dele, era onde ela queria estar, e sabe? Acho que ele também.
Os ponteiros insistiam em correr, e eles insistiam em ignorar, voltaram ao começo, deitaram, dialogaram entre os olhares, e foram em busca de novos cacos da garrafa quebrada, o parque..ah..o parque...as cores, as árvores, ela nunca tinha ido até lá, a luz era serena, a mescla do verde com amarelo, pessoas caminhando, fazendo seus alongamentos estranhos, eles riam, riam de si mesmo, do estado físico em que se encontravam, as pernas bambas, o corpo pedia descanso, sentaram em um banco, ele deitou no colo dela, era tudo tão surreal como aquela simetria daquele rosto, beijos concretos e subjetivos, faltava o ar, faltava a razão, e transbordava a insanidade de desejos aleatórios, ela não queria ir embora, queria ignorar todas aquelas pessoas, queria aquele êxtase momentâneo, senti-lo até as ultimas conseqüências.
Os gatos, a ração espalhada, a senhora que poderia ser uma bruxa, a percepção era toda muita intensa, eles abraçados, leves, driblando o cansaço físico por mais alguns instantes de proximidade, ele queria dormir ali, ela tentava ser racional, boba, boba, a realidade esperava por eles, saíram ao encontro dela.
O contanto físico com o passar do tempo, era cada vez mais forte, a coreografia das mãos, dos lábios e dos olhares eram poesias, deram boa dia aos espelhos, não seguiram ordem cronológica, se esconderam do sol, queriam fugir do dia que nascia, mas não conseguiram, não adiantava correr.
Transportes públicos, ela mudou de lugar, ele deitou no ombro dela, ela não largava as mãos dele, beijou seu rosto e seus olhares, era o caminho para a distância, saíram daquele trem sem espelhos, sem passado e sem futuro, andaram sem força, era informação demais, pessoas andando sem tanta presa, barulhos aleatórios, cores e sensações, as mãos não se soltavam, os olhares não se perdiam.
Sentaram em mais um banco, era o último, ela quem deitou no ombro dele, e dormiu, cochilou, por menos de vinte minutos, acordou com o coração disparado, olhou para o lado e percebeu que não se tratava de um sonho, sorte..eles conversaram não sei bem sobre o que, acho que nem os próprios sabem, creio que falaram mais em silêncio, trocaram segredos secretos entre olhares, se abraçavam, se beijavam, frases impulsivas, eu gosto de você, eu também, não quero ir embora, não quero que você vá, era poesia, poético, cinema, melodia, sono, alucinação e delírio.
Eu cuido de você, eu não preciso que cuidem de mim, todo mundo precisa um pouco, ela dizia..ela sabia, como ela sabia... desde um passado não tão distante em que ele apertou a mão dela com força, como se pedisse para ficar, ela nunca enxergou naqueles olhos uma frieza, uma pessoa fechada em seus próprios medos, ela via loucura com pitadas de ternura.
Não se meche nas carteiras alheias, pena que ela não entendia, excessivamente curiosa, não sei como, criaram forças até para brincar, ele segurava os pulsos dela, e ela se desconcertava com a textura da pele dele,temos que ir embora..
Levanta, se abraçam, o corpo gritava, os lábios beijavam, desceram as escadas, e ele abraçou como da primeira vez, primeira vez, aquela que nem outra dimensão era, abraço com o corpo inteiro, com a alma inteira e com a essência plena.
Plenos, aquilo era ser pleno, o abraço quase a sufocava,um fluxo de pensamentos gritava em silêncio, sussurrava em seus ouvidos todas aquelas lembranças tão recentes de um passado que não poderia ser estático, as cores, os beijos, as risadas sem presa, deitar em você, girar, girar, relatividade, dimensões, personalidades, álcool, desejo, textura, pescoço, me arranha, teus ouvidos me tirando a concentração, você me chamando de louca, sem razão, sem pudor, assim como teus beijos, vontade de ficar mais um dia, de sumir com você, te levar pra longe dos olhos alheios, sem ar, com a roupa rasgada, gira, sente e acaba.
Ele saiu, ela também, era engraçado porque agora o sem sentido era estar sozinha, sem ele por perto, sem a sua doce dose homeopática de insanidade lúcida, agora era sem lógica, andou com pressa e sem força, escutava as conversas, assistia todo aquele filme sem direção, via os atores e o cenário quebrado, acabou a sessão e a vontade de escrever.
Ana T.

Foto:Achada no google, aleatória!
[Os filmes alheios me inspiram!]
Câmbio/Desligo.

sábado, 10 de abril de 2010

Passado.

Eles estavam na calçada, era uma tarde quente de dezembro, o sol era intenso e a conversa sem presa.
-Mas você acha eu tenho um padrão?
-Acho que você é previsível demais sabe....?
-Não, não sei.
-Os assuntos tem sempre a mesma essência, as palavras não mudam, de uma certa forma é como se fosse a sua assinatura, então pode ser que isso seja bom....
-Pior é que eu sei de tudo isso e não acho nada bom, sempre leio inúmeros textos que me inspiram loucamente, textos diferentes, personagens mais loucos, palavras não tão glamorosa...mas daí eu começo a escrever e fica tudo igual, tudo...a minha essência, as mesmas idéias.
-Mas não pode ser teu estilo?
-Pode, mas enjoa, eu queria conseguir falar de crianças, de natureza e todas essas coisas que eu não acho tão interessante escrever.
-Você gosta de escrever sobre o amor?
-Só se for sobre um amor triste, mal resolvido, ou traições...dissimulações...nada muito puro não..
-Fatalista, pessimista, mas no final das contas aposto que é piegas.
-Piegas...eu adoro usar essa palavra.
-E se o texto fosse sobre o conceito do amor?
-Eu ia me sentir na época do cursinho sabe? Aqueles temas de redação todos filosóficos que se restringiam a norma culta e trinta e duas linhas, ah claro...usar a coletânea, por favor!
-Você é tão sarcástico...isso me irrita as vezes.
-Isso me irrita sempre, mas voltando a falar sobre o amor...deixa eu te contar uma viagem que eu tive ontem antes de dormir.
-Fala!
-Bom...eu comecei a pensar que a gente ama várias pessoas durante a vida...e com cada pessoa a gente concretiza o amor de uma forma diferente.
-Espera...você ta falando de amor entre pai..filho..assim ou amor carnal?
-Amor carnal..não que eu ache que a palavra “carnal” simplifique tudo mas enfim...a gente concretiza de várias maneiras...seja com as palavras, ações...poesias e até mesmo grandes filmes...a gente tira o amor do mundo das idéias e leva ele para nossa cama, para o nosso chuveiro...mesa..pro nosso cotidiano certo?
-Hm...e ai?
-E ai um belo dia acaba...certo...acaba antes..mas um belo dia a gente percebe...e resolve terminar todo aquele relacionamento, em alguns dos casos...
-É, em outros prefere a conformação cotidiana.
-Pois é...mas é todo aquele passado que aquelas duas pessoas formaram?É tão complicado lidar com isso, acabar um relacionamento...é necessariamente ter que acabar com um passado?
-Não..eu acho que não...é aprender lidar com ele.
-Eis a dificuldade...o passado está ainda presente em tudo, ainda mais se o casal tiver passado muitas coisas juntos sabe?
-Eu sei..mas não estou entendendo onde você quer chegar, para variar!
-Bom..nem eu sei ao certo, mas é algo assim...ai você consegue aprender a “lidar” com esse passado, aparece outra pessoa...você se encanta...e ai novamente...você está fazendo um passado...o passado é presente sempre! Como a gente consegue isso? Temos tantos passados, de tantas pessoas entrelaçadas na nossa vida...somos tantas vezes..resultado dessas pessoas..que sequer nem falamos..nem sabemos como estão...
-É claro, partindo do pressuposto que você sempre vai terminar com alguém...não existe possibilidade de manter o passado a flor da pele, e ainda por cima se vai ter outras pessoas na sua vida...existe o ciúme, que impede o contato extremo com seu ex namorado ou namorada! Somos sim, resultados de todas as pessoas que passaram pela nossa vida, mas não só no caso de namorados, namoradas, aventuras, amigos, enfim....é impossível a gente saber se todos estão bem...
-Pois é, esse é o meu ponto, não é incrível saber que você tem a essência de várias pessoas apesar de estar distante fisicamente e até emocionalmente delas?
-É..pensando por esse lado...é um pouco louco pensar nisso...você não se imagina não pensando no passado?
-Meu passado é a minha vida, tem como eu me imaginar sem ela?
-O presente e o futuro também são a sua vida.
-O presente pode ser, o futuro..ainda não sei..se eu morrer agora, o meu futuro não existe mais.
-As vezes eu acho que você sofre com esse teu encantamento pelo passado, creio que você não consegue lidar muito com ele, afinal..foi tão intenso..e a tua questão....seria o que fazer com todos esses passado que a gente não consegue lidar, nem esquecer...
-É...acho que eu sou viciado em passados.
-Tudo isso é loucura, você pode ser viciado em um futuro que já passou.
Bernardo olhou para aquela resposta e sorriu, abraçou o amigo e mudaram de assunto.

domingo, 4 de abril de 2010

Sete Belo com Sorvete

"A sua boca tem gosto daquela bala sete belo, sabe?
Fumar, beber, verbos tão literários, cheios de uma vida boêmia, repleta de noite, copos vazios, risadas, poesias, boinas e melodias. Sinto o perfume de toda essa intensidade e tento destilar entre tais linhas.
Palavras..palavras, me perco diante tantas sonoridades...gargalhada, café, brigadeiro, azul, amora, limão, hortelã, abacaxi, doses, homeopatia, insanidade, colegial..colegial..co-le-gi-al, parece sorvete derretendo na boca da menina, menina dos olhos cheios de pureza, mas o olhar dissimulado não consegue esconder o cigarro nas mãos finas, a coreografia que mão faz, dançando entre a fumaça que a boca proporcionou.
Talvez ela não pare de fumar, ela não precisa parar de fumar, afinal...os males nunca irão atingi-la, pois é minha personagem, minha colegial com gosto de sorvete de morango.
Ele também, o que possuiu beijo de sete belo, o garoto pode não fumar na vida real, mas sei que tem medo de agulhas, sonha com elas e acorda assustado, procura algumas marcas pelo corpo, talvez se resolvesse procurar em sua própria mente, certamente acharia, entre sorrisos e gritos, perfume e a pasta de dente..lá estariam..marcas que ardem..queimam...e vão arder para sempre...são os amores mal resolvidos, as cartas de amor extraviadas, a certeza infundada na eternidade que se desfez em frações de segundos, a morte do querubim, são essas cenas, que com o tempo foram estilhaçando, com todo direito ao som ensurdecedor dos vidros quebrando, infinitos pedaços estilhaçados, que cortaram sua mente aos poucos, fazendo com que sangrasse..e talvez um dia elas cicatrizem..até lá..seu medo de agulhas ainda vai te atordoar...dizem que não acaba nunca, que é um conto circular, um ciclo vicioso ou meu dado viciado.
Aqui, sendo meu personagem, ainda quero que você tenha esse medo, as fragilidades das pessoas as tornam mais amáveis.
Agora senta ao meu lado, acende seu cigarro, e segura a minha a mão com aquele olhar sereno, enquanto eu faço café.
Apaga a luz e não me deixe com marcas visíveis, posso fazer cócegas em você?
A tua risada ecoa nas linhas, sabe que quando ri, teus olhos ficam bem pequenos?
Tá certo, eu paro de falar, apaga esse cigarro, deita no chão que eu deito no seu ombro, não sabendo exatamente com o que eu quero sonhar, mas com a certeza de como eu vou acordar, e é sem dúvida com você olhando pra mim. Real, não no meu papel."

Ana T
Março de 2010.

sábado, 27 de março de 2010

Luzes

Já é tarde, as roupas ainda estão em cima da cama, a camiseta velha cobre meu corpo branco, e o Renato Russo canta para mim, a lua me encara desde o começo da noite e as luzes da cidade me provocam.
Me encontrar em um texto teu é loucura, e que loucura cheia de coincidências, medos, delírios, menta e amora..não tenho sono, não tenho hora, é tudo tão surreal. Ainda acho que vou te encontrar novamente na rua, com cara de assustado, ainda acho que vou chegar a uma conclusão sublime sobre minhas contradições e ainda insisto em insistir escrever algo, sabendo que não vou conseguir colocar um fim.
É sábado, as pessoas normais saem pelas ruas, bares, restaurantes, e até os lugares mais constrangedores e exóticos, outras...ficam no telefone, viciadas na tecnologia do contato restrito as palavras e frases, e eu me perdi, dentro de mim, dentro deste quarto pequeno, entre tantas personalidades minhas, entre a intensidade de um passado tão recente.
Tira o som dessa TV, pra gente conversar..pra eu conseguir escutar meus pensamentos, eles gritam, depois sussurram, e eu não os entendo, não sigo raciocínio lógico, preciso de um banho, de água caindo em cima do meu corpo, pode ser uma cachoeira, a gente escreve depois, pode ser?
Não sei onde guardar minhas roupas, não acho as coisas na cozinha, e é sábado..sábado..sábado..é até sonoro...e eu quis ficar em casa, não fiquei o tempo todo deitada na frente da televisão, não arrumei meus textos, muito menos li, não escrevi, nem pratiquei exercício, fiquei em mim, tentando me encontrar, fiquei em mim por um bom tempo, e achei tanto de você, pena que não consegui te dizer.
Eu me confundo, eu te confundo, agora..tudo parece tão claro..porque eu não penso em nada concreto, os pensamentos pairam delicadamente em meus ombros, em minha pele, ela me chama de inconseqüente por coisas tão banais, e os alardes, ela ri e fala que é normal, céus, como pode um fato ter tantos significados para pessoas diferentes?
E os amores mal resolvidos, inacabados, e as cartas de amor ridículas, os gritos, o sexo e o acordar gostoso com um suco de abacaxi e o teu cigarro provocante, é tanta coisa, tanta sensação, acho que é por isso que a gente vira tanta gente em uma coisa só, e as vezes..não é harmônico, não conseguimos.
É só um nome..e faz toda diferença..se ninguém me contasse que hoje é sábado..eu não estaria olhando para as luzes da cidade como estou, imaginando os bares e pessoas com roupas previsíveis, tive tanta chance pra sair daqui e fiquei..fiquei..estou..e foi tão bom.
Preciso dormir, fazer café, arrumar a casa, a mente, as sensações e a minha percepção delas, ela diz que pra mim, tudo é poesia..e deve ser..” mas a única maneira ainda de imaginar a minha vida é vê-la como um musical dos anos trinta”.
Parar de beber é um bom começo. Parar de me embriagar, jamais, afinal..só os normais se embriagam apenas com álcool, eu me embriago com as tuas poesias, com o teatro que a gente faz sem público, só pra gente, com o tango secreto que as nossas mãos dançaram, com teus beijos roubados...com a realidade e principalmente quando a questiono.

Câmbio/desligo.

Ana T

domingo, 21 de fevereiro de 2010

eu não moro mais em mim.


Eu perco o chão, eu não acho as palavras

Eu ando tão triste, eu ando pela sala

Eu perco a hora, eu chego no fim

Eu deixo a porta aberta

Eu não moro mais em mim

Eu perco a chaves de casa

Eu perco o freio

Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio

Onde será que você está agora?

[Metade/Adriana Calcanhoto]

domingo, 3 de janeiro de 2010

Carol e Pedro...


A Carol e o Pedro...o Pedro e a Carol...eram o típico casal que todos adoram, as gargalhas sempre estavam presente, ela cantava, ele tocava piano, ela era bailarina e ele tocava piano.
Piano era a coisa que ele mais amava na vida, depois da Carol...e do Mingau, o gato dele, a Carol não gostava muito de ser bailarina, a mãe dela havia colocado a menina no balé com 4 anos, ai ela acabou acostumando, fazendo muitas amizades e foi ficando...ah..o Pedro amava o jeito como ela dançava.
Carol era alta, magra, dentes grandes, o cabelo era de poesia...caia nos ombros todo ondulado, com cachos nas pontas, bem bonito..de desconcertar seres mais distraídos, ela vivia rindo, mostrando o sorriso, falava alto e era efusiva em demasia, o Pedro, que era tão mais tímido as vezes fiava um pouco com medo daquela intensidade de mulher, mas ele adorava...
O Pedro também era magro, bem magro...o sorriso era mais discreto, agora os olhos...apesar de pequenos eram de tirar o ar, possuíam uma força de qualquer outra dimensão que arrastava tudo e todos, o cabelo caia até os olhos, era um liso não tão liso sabe? Desses que a gente bagunça e fica bonito...
Era um casal bonito demais, de dar gosto de ver, ele ia em todas apresentações de balé dela, quase saltava da cadeira quando Carol dançava sozinha no palco, e ela sonhava com as mãos dele tocando piano, acho que ele era a melodia do balé dela e ela era a partitura preferida dele.
Pois é, mas um dia ela resolver largar o balé...e não o Pedro...cansou...era tudo tão perfeito, tão cheio de medidas, ela era tão diferente daquilo...Carol era mais tango, flamenco..sabe? O Pedro ficou chateado, mas depois passou, ele continuava tocar...
O Pedro era discreto, a Carol não...a mãe dela queria que ela fosse assim, mas a garota não conseguia, falava alto e abraçava todos, os amigos adoravam toda aquela intensidade, todo aquele riso gostoso, mas o Pedro, apesar da timidez era adorado também, ele gostava de ouvir...e ouvia olhando nos olhos, e percorria todos os sentidos daqueles que falavam sem parar, era como se pudesse transpor toda aquela máscara superficial feita pelos mortais.
Quando estavam sozinhos, gostavam de escutar Tom Jobim deitados no chão da varanda, de andar nos trilhos velhos por onde passava um três antigo, ficavam imaginando histórias...delirando, devaneando, tomam chuva com freqüência, ele adorava o cabelo dela todo molhado..riam tanto...bebiam muito vinho, o Pedro ébrio era poesia pura, a pele branca ficava vermelha, e ficava um pouco efusivo, declamava sonetos e sussurrava alguns do Drummond no ouvido de Carol.
Claro que eles brigavam, o Pedro foi para faculdade, Universidade de São Paulo...ele foi fazer Física, queria ser professor...a Carol..foi fazer Artes Plásticas em uma pouco conhecida, o Pedro questionava o motivo dela nem ter tentando uma pública, ela se irritava, falava que não era tão inteligente quando ele, ele se irritava diante disso.
Brigavam porque a Carol fumava demais, ele jogava o cigarro dela fora, ela o chamava de maconheiro, falava que cada um tinha um vício e pronto, ele tinha vontade de enforcá-la com esses argumentos de papel. Brigavam porque ela faltava à faculdade e porque ele nunca teve coragem de tentar música, Carol falava que ele não tinha audácia, mas sempre se desculpavam, seja através de um poema do Neruda embaixo da porta dela ou um pavê de chocolate na mesa dele, óbvio que existiam conversas..e conversas...e abraços...e beijos...e beijos...e beijos.
Ele amava o corpo dela, ela era louca pelo corpo dele, esguio...o pulso fino era o charme, ele gostava de desenhá-la, fazia os contornos com toda calma, e ela pintava os olhos dele sempre..quando acordavam juntos, conversavam desde física moderna ao mito de Narciso, falavam sobre dimensões diferentes, viagens no tempo, filmes, músicas, concordavam e discordavam e expressavam suas opiniões com toda a intensidade.
Ela gostava de ficar sozinha também, ele entendia e também precisava, Carol precisava escreve seus poemas cheios de sinestesia, o Pedro precisava compor, em inglês, alemão...e de vez em quando em português..não porque ele desprezava nossa língua, mas ele tinha um certo medo irracional de usá-la.
Acho que o Pedro começou falar bem mais depois que conheceu a Carol..e a Carol começou a ouvir mais..com os olhos depois de Pedro...
Ah....como eles se conheceram? Um dia desses eu te conto, ai aproveito e te obrigo a ir lá em casa tomar um café!
Ah...o futuro? Calma! Eu nem te contei o passado ainda...
Pedro, Carol...Carol e Pedro..feitos de poesia e gargalhas escandalosas, feitos de prosa e silêncio.
Assim como todos nós.
Ana T.
ps: A foto eu achei perdida na internet, muito bonito o desenho, não?
Câmbio/Desligo.
ps2: Feliz 2010, que a insanidade continue dando o ar de sua graça!