quinta-feira, 28 de junho de 2012

dia vente e seis

sempre que terminamos
eu te ligo e você me diz
que está jogando 
coisas foras
imagino você jogando pedaços de mim
ei, nessa manhã
me jogue inteira

sexta-feira, 22 de junho de 2012

lua sem café com leite


Ler ao som de: Qualquer música que te lembre um grande amor.

Ana estava em seu quarto, deitada sobre a cama, janela aberta, pensamentos em fluxos, quando ouviu – olha a lua. era a voz dele.  A menina levantou em um impulso. Sentiu calafrios. Sabia que estava sozinha e que Theo bem distante. Debruçou na janela, quase torceu o pescoço, mas não conseguiu enxergar a lua. Voltou a deitar, a voz voltou, Ana se irritou, já não falava com Theo há alguns meses, a voz insistia. – Olha a lua, Ana. Ana não acreditava em Deus, nem tinha medo de fantasmas, mas transbordava pavor da loucura, da paranoia. Ana pensou em Theo, nos olhos amendoados, nas vírgulas, no ácido, Ana ainda amava Theo, , mas estava finalmente conformada daquele fim. Provou a si mesma que o único jeito de seguir era sem qualquer resquício dele. Foram muitos gritos, pratos quebrados, noites e dias sem qualquer nexo, remédios (de todos os tipos), ligações exaltadas, insônia, até o ápice, que foi, sem dúvida, a rejeição. Uma noite de porre, muito choro, desconfiança, cachaça, e de repente ela se aproximou de Theo e ele disse – não, Ana. hoje não. Ela sabia por que não, ela imaginava...até hoje não tem certeza, nem vai ter. Ana chorou, saiu daquele espaço físico, chamou um táxi, e não foi embora, conversaram embaixo de chuva e embaixo de gritos. Foi uma das piores noites de sua vida. Nem seu olhar clínico pra cenas de cinema foi salvo. Só chorava, andava para os lados, fumava um cigarro que apagava toda hora, afinal, chovia muito. Os dois encharcados – a que ponto chegamos. Pensavam os dois. Aquele desconforto, aquele gosto amargo. Ele conseguiu fazer com que Ana desistisse do taxi, entraram, gritaram na cozinha, mas não gritaram entre eles, gritaram para eles mesmos, gritaram de desespero um para o outro, sempre foram, antes de qualquer coisa, bons parceiros. E naquele instante, Ana precisava de Theo e Theo precisava de Ana, mas era impossível, cada palavra sangrava. Dormiram juntos. Abraçados. Ana tentou acreditar que no dia seguinte, iriam almoçar em um restaurante japonês e em seguida passear no parque. Amanheceu, logo se arrumaram e saíram pelas ruas da pequena cidade, não se falavam muito, apenas algumas farpas, não restava muita força. Pegaram o mesmo ônibus, ela decidiu fazer um caminho mais longo para ficar mais tempo com Theo, mas o assunto só doía, a presença só estilhaçava aqueles bichos. Desceram, eram um dia ensolarado, estavam em uma esquina, ele, de violão nas costas, ela, cachecol e boina vermelha, ambos cansados, machucados – vai até o outro ponto comigo? ela sabia que se fosse, voltaria chorando, aquele caminho, aquele parque, aquelas malditas lembranças... – não. não vou. Nem me lembro se existiu algum abraço, na minha memória, vejo uma tentativa de interação frustrada. Ana respirou fundo e sentiu que daquele dia em diante, não haveriam mais tentativas. Ela havia finalmente se esgotado. Não era questão de orgulho, muito menos de valorização própria. Era a dor, que invadia demais o corpo dos bichos. Ambos haviam chegado a extremos, aos cacos mais cortantes, ambos haviam bebido demais, chorado demais, tentando demais. Agora, observando os passos da menina indo embora, lembro-me daquela frase do Caio Fernando Abreu “Não temos culpa, tentei, tentamos.”. Ela não pensou em nada, nem no autor, nem em mim, apenas seguiu seu caminho sem chorar. Passeou com cachorros, não retornou a ligação e fez da raiva uma grande amiga. Seguiu. Depois daquele dia, não encontrou mais com Theo, nada, ligações, nem por outros aparatos tecnológicos. Ele foi viajar, ela ficou sabendo, não comentava mais de Theo, não escrevia mais sobre Theos (há muitos anos deixou de escrever sobre Theo). Não chorava mais. Às vezes, talvez, um pouco depois, algumas lágrimas e só isso. Mas sonhava, sonhava toda noite. Ana não tinha mais vontade de correr para casa dele, mas queria saber se estava bem, se estava comendo frutas, ou se estava muito magro. Entretanto, ela bem sabia, que se houvesse qualquer interação, o suposto equilíbrio seria estilhaçado mais uma vez. Parecia que tudo estava pairando...em suspensão..um fio invisível...Mas de uns dias para cá, ela se assustou, encontrou tantos amigos com novos namorados, parceiros, seja o que for, amigos desses que bebiam cerveja no bar sempre que conseguiam, apesar das cidades diferentes, das faculdades caóticas, do tempo ausente, amigos esses que namoravam entre eles, amigos esses que não se veem há tempos. Ana começou a sentir medo, mas não tinha coragem de sustentar nenhuma afirmação. Ana sentia saudade de seu parceiro. Lembrava sim, de todas as noites de brigas, mentiras, pequenas omissões, paranoias, repulsas e de como aquela relação estava se tornando cada vez mais doentia e repulsiva. Mas ainda assim, sentia falta de como Theo a fazia rir, gargalhar. Não tentava mais sobrepor os dias deliciosos aos repulsivos, não tentava mais nada. Vivia com medo, de que de um dia pra noite, voltasse a chorar compulsivamente, voltasse a querer, vivia com medo  de que aqueles dias fossem uma mentira bem construída, isto é: de que todo aquele papinho de conformação, de realmente-não-vamos-morar-juntos-nem-teremos-um-gato-gordo, fosse uma bela enganação. Mas por hora, não era isso, por hora, ela sabia, ela sabia que iria seguir. Que em breve teria de se acostumar com ele e mais alguém, mas ainda não pensava tanto nisso, não bebia a dose de suicídio cotidiano, ainda. Mas às vezes a imagem vinha, aquele café, pão com manteiga, bicicleta, alguém morando com Theo, dividindo a cama, ouvindo os anseios, mas logo (?) passava, - a vida é grande, a vida é grande. dizia sempre. A vida é tanto. Só sei que de um tempo pra cá, Ana enxergava Theo, mesmo que fosse no mundo das ideias, gostava de saber que ele estava ali, por perto, gostava de imaginar que naquele instante ela sabia mais ou menos o que ele estava fazendo. Às vezes ensaiava um diálogo, mas logo lembrava do ciclo de desastres que poderia desencadear. Ana e Theo, bichos machucados. E foi ontem que deitada, ouviu a voz do garoto – olha a lua. olha a lua Ana. Do outro lado da cidade, ele não ouvia nada e muito menos, dizia. É verdade, sim, como Theo mesmo comentava, escreveram juntos um instante de suas partituras, costuram com pele, sangue e risos, misturaram, brincaram no parque, caíram no chão, lúdicos ou não. Mas Ana e Theo não tinham nada de especial, o amor deles não era maior do que o dos outros, nem a dor.
Theo fumava uma erva e preparava um café, enquanto a Ana tratava de se levantar e foi providenciar um copo de leite quente. Café com leite, sem lua e sem muito drama.

Fim.

Com muito amor, Ana T.

Três de Agosto de Dois Mil e Doze às três horas vinte e dois da manhã.

Câmbio/Desligo