sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Minha Lucidez....

Será que estou ficando louco? Confundo os meus sentidos e tento enganar minha razão, já não escuto os outros, deixo as palavras ecoarem sem som em minha mente.
Questiono tudo, mas até disso já me cansei, questiono o motivo de não questionar mais.
Preciso escrever, mas perco tempo com banalidades, meu trabalho me deprime, já não consigo efetuá-lo com tanto entusiasmo, tanto? Nenhum, eu diria. A saúde tenta me privar dos meus direitos, já não posso nem beber, nem fumar, sexo não me importa mais, a textura que eu mais desejava desapareceu entre algumas linhas dos poemas de Camões.
Meu paladar me engana, insiste em querer deixar de existir, estou doente da alma e dos olhos, escuto vozes, deliro em alguém que não fui, perco meu tempo pensando em quem poderia ser.
A única coisa que me mantém vivo é escrever, quanto mais escrevo mais eu sofro, mais eu sangro, porém, só através de tal masoquismo me sinto vivo.
Não quero que publiquem minhas cartas ridículas de amor, não quero desconhecidos analisando minhas angustias, minha dor e meus delírios.
Eu sangro em cada linha, eu preciso sangrar, meu amor...Não se preocupe com minha loucura, agora eles acham até graça. Não estou morrendo, nem com graves problemas de saúde, não se preocupe pequena minha..ainda iremos namorar no portão como antigamente.
Assim que todas minhas cicatrizes pararem de arder, assim que eu não escutar mais aqueles gritos e não enxergar mais a escuridão.
Eu deveria ter gritado mais? Será que assim alguém iria me ouvir? Iriam parar de me bater?
Eu sei que pareço louco, talvez esteja, tentaram me impedir de pensar, de escrever!
Minhas linhas são minhas confidentes, minhas companheiras, meu papel é ternura e violência.
Flor..flor de lírio..eu ainda tenho minhas lembranças com você, com teu cheiro e teu corpo.
Eu ainda converso com as estrelas apesar de me sentir um parnasiano.
Você é minha lucidez, por favor, não se afaste da minha loucura.
Agora tentarei dormir, Paris faz muito frio.
Eu te quero bem.
Seu, e sempre teu
Fernando

03/11/1982