quinta-feira, 8 de julho de 2010

Apetite De Si Mesmo

“Platão, Sócrates, Filosofia, hiato, Política e teus beijos musicais cheios de sinestesia invadem sem pudor a minha tão idealizada linha de raciocínio.
Teu gosto insiste em pairar entre as frases, meus arrepios insistem em me desconcentrar, desconsertar, e eu danço, danço, danço em um jogo de provocações, de olhares cheios de persuasão e malícia, eu solto meus braços e tento cair em queda livre, mas você insiste em me se segurar, te empurro, te puxo, te mordo e te arranho e não sei mais o que fazer, me perco nos sentidos, a respiração me denuncia, e as divergências entre tantas personalidades me assustam em um abismo cheio de medo.
Estereótipos estilhaçados, me aproveito de alguns, só para te arrancar aquela expressão de extrema ausência da razão, com aquele olhar perdido e um sorriso amedrontado cheio de malícia.
Infinitos pensamentos sem lógica gritam em minha mente, pensamentos cheios de melodia, cheios de vozes, medos, eu grito mais alto, peço que parem agora, já não agüento mais, me sinto ardendo, como os personagens do seu conto que você queimou com aquele cigarro que te dei, fecho os olhos, o silêncio finalmente existe, mas ainda assim o barulho é ensurdecedor, agora vejo fantasmas sussurrando loucuras obscenas em meus ouvidos, meu corpo não tem mais força, a respiração falha, a mente deliria e me faz duvidar da realidade.
Estilhaços no chão, no meu pulso, sinto dor, é vermelho, me liberto, mas você insiste em me tira da lá, me abraça e me beija, como se eu fosse uma criança perdida dos pais, mas não sou, e você sabe disso...só preciso que você me arranhe com toda sua força, me deixe cheia de marcas, não se amedronte pela minha expressão frágil, você sabe exatamente do que eu gosto, vou pedir para que me segure bem forte, para eu tentar fugir, mas não deixe, não deixe, me prenda com teus braços, não tenha medo dos meus gritos desesperados, eu gosto de tudo isso, dessa loucura que sinto perto dessa sua expressão de indiferente.
Grita comigo, pára de ter medo, leia Nelson Rodrigues, rasgue todas as minhas roupas com as mãos, os dentes, me jogue na cama, no chão, quebre os copos, o porta retrato, deixe os cacos no chão, deixe que eles me cortem, que eles nos cortem por inteiro, deite comigo, preste atenção na minha expressão, o lábio vermelho, os olhos molhados, o corpo pálido, poucas roupas, o que cobre é rasgado, e olhe pra você...adorando tudo isso, encarando o teu sadismo e o meu masoquismo de perto, olha o teu sorriso irônico cheio de prazer, olha o meu sorriso cheio de sinestesia, cheio de terceiras intenções, e eu te puxo pelo cabelo com a boca um pouco aberta e te beijo, te beijo, até você não agüentar mais, beijo teu pescoço, mordo teu ombro, arranho você inteiro, deito em cima de você, e faço aquela cara de inocente com olhar dissimulado, você não agüenta, mas não pede pra eu parar, a tua respiração é que te denuncia agora, não só ela, haha, até que consigo exatamente o que eu queria, você me pega pelo braço, sem medo algum de me machucar, inclusive me fazendo sentir dor, me joga no chão, cheio de cacos, e começa me beijar com força, me arranhar inteira, me morder até eu não agüentar mais, mas eu sempre agüento...haha, e vira um dado viciado, um ciclo vicioso, um conto circular, o infinito...deitados, sem ar, sem roupas, sem razão, sem vestido vermelho, sem moral, sem violão, sem ética, sem realidade, sem dignidade e tão..tão livres.”

Ana T.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Futuro Com Gosto De Amora

Para meu Tango preferido:

Mas que vontade de viver que me deu, sentada aqui nessa mesa, fumando o meu cigarro, vendo você fazendo teu café, aquele cheiro pairando pela casa, nossos livros na estante, o Dom Casmurro com a dedicatória antiga, os móveis antigos, o sofá todo arranhado por causa da gata e a nossas margaridas cheias de ternura.
Pois é, lembrei-me de uma conversa que tive com um amiga, assim, falando da vida, do futuro, das vontades, nem tudo foi como imaginei, nem poderia ser, perderia a graça, ontem ela veio aqui, tomamos um suco com a hortelã da minha horta, ela riu do meu vestido, um sorriso gostoso, esperei tanto por ele, acho que até coloquei aquela roupa de propósito, só pra ver aquele olhos sorrindo.
Ela é tanta coisa, ela escreve, tenho até uma coluna na revista dela, chamada: entre devaneios, loucuras e prazeres. Carolina se formou comigo, ela foi pro jornal, eu para o cinema, não que seja assim sempre, mudamos constantemente para não deixar a monotonia nos invadir, ela não tem permissão pra isso.
Já escrevi roteiros, tentei fazer alguns curtas, falta patrocínio, a moça fala: “Não fica parada, sai dessa casa, você tem idéias tão insanas, mas com aquela pitada de serenidade..não pode desistir dos teus filmes!”
Sabe, eu não desisti, mas fico, sento, escuto, faço até cara de séria, mas no fundo ela sabe que eu sou meio assim, quando me dá vontade eu sumo por uns tempos a apareço com alguma novidade. Ah, dou aula em uma faculdade aqui perto, não foi fácil, ainda não é, a primeira turma sempre me assusta, ainda mais com essa altura que tenho, céus, me sinto tão menor.
Gosto das terças e quintas, faço um trabalho voluntário, um projeto para incentivar a leitura, falo com crianças, adolescentes e idosos, é gostoso, aprendo tanto com eles, fiz grandes amigos, tem uns que não são fáceis, também..com tanta coisa difícil, outros são tão cheios de ternura, apesar da vida que levam, tem até quem se esconde atrás da leitura, já vi até casos como o do seu João, sessenta e cinco anos, foi pedreiro por 30 anos e se transformou em um leitor compulsivo, apresentei Vinicius de Moraes pra ele, nossa, agora ele declama poesia o tempo todo, tão bonito isso.
Carolina já escreveu sobre tal trabalho, ficou entrevistando o pessoal, foi engraçado e gostoso, ela teve que dormir em casa, ficou espirrando por causa dos pelos da gatinha, enquanto ela fazia as entrevistas, eu filmava, tem que ter cuidado sabe? São pessoas muito humildes, não se sentem muito tranqüilas diante uma câmera, parece um pouco ameaçador e desde quando não é!?
Ela ficou acordada durante toda madrugada, lendo, escrevendo, eu levei um café com um pão de queijo bem gostoso, ela me deu um abraço e isso bastou, fui dormir tão feliz.
Deitei na cama, mas não conseguia não pensar em tudo, levantei e fui lá atrapalhar a concentração dela, nos falamos dos amores platônicos, achávamos que eles ficariam calados no passado, ah, quanta besteira, eles voltam sempre, nos assombram e nos surpreendem, ela mesma, tem tanta coisa pra contar, lembramos dos conselhos, das vontades, ela ria muito e falou: “Quem está dormindo na sua cama com você hoje? Não falei que ia ser assim?” Eu ri né, também tive as minhas doses de certeza para fazer piada com a expressão dela!
Pena que ontem ela veio tão rápido, cheia de trabalho como sempre, não pode tomar café, mas ignora, pelo menos agora que também sou vegetariana ela adora comer aqui em casa, mas nem quis almoçar, tinha reunião nessa cidade caótica que eu morro de saudade, ainda volto pra lá!
Sabe, te digo que certas coisas não mudam, ela ainda se irrita comigo, eu ainda me irrito com ela, mas que bom, porque se não fosse essa irritação as minhas noites não renderiam nada, não teria o que escrever, não teria inspiração, ela me oferece trinta e três mil sensações, sinto falta do macarrão com muito queijo, mas a próxima vez que Carolina aparecer por aqui, faço um novo, com um tempero divino, haha!
Bom, agora preciso encerrar esse texto por aqui, preparar uma aula e assistir uma palestra dela na Cultura!
Câmbio/Desligo.