sábado, 13 de novembro de 2010

Era dia, era sol, era um trem das cores, tantas frases escritas com aquela caneta azul, o caderno típico, personagens e outra cositas mais, conversavam sobre nem sei o quê, sobre o azul celeste celestial, Ana ria, fechava os olhos, acendia outro cigarro, e observava todos que ali fumavam, tocava a fumaça com o olhar e sentiu frio, a noite vinha, a chuva apareceu despercebida, a conversa continuava sem presa.
Estava indiferente, apesar do sorriso, estava em silêncio, em um silêncio distraído, ás vezes pronunciava algum silaba, mas não expressava tristeza, Ana estava um pouco enjoada de si mesma; acontecimentos típicos do cotidiano, erro, ruído, caos e outras cositas mais.
O cabelo despenteado, a blusa antiga, tomava um chá gelado, tragava, fitava a fumaça, Ezequiel ria bastante, falava em alto e bom tom, com as mãos, com a boca, com o corpo inteiro, Ana queria-qualquer-coisa-que-fosse-diferente-daquilo-apesar-de-não-ter-motivo-pra-tal, mas desde quando precisamos ter motivos? Pensava ela, entediada, não da situação, mas dela própria, Ana bocejou, nada era lindo, nada. Sem tesão, sem vontade e sem apetite, só queria outro cigarro, mas havia acabado, sentia um cansaço por nada, por falta de alguma-coisa-qualquer-que-não-sabia-o-que-era, crise existencial? Ah, não.
Os ratos soltos na praça, os olhares sorrindo, as frases soltas sobre uma beleza aleatória inexistente, inexistente pra Ana, mas todos insistiam em dizer o contrário, ela infelizmente respondia com o silêncio, ora ou outra mordia os lábios ou suspira fundo, queria sair de lá, gritar bem alto e sentir dor, mas não, estava estática, naquela pose tediosa, estava inquieta, mas queria expressar uma face serena, era patético, e Ana sabia.
Em certos instantes, ela sorria, aquele perfume dele no ar, ora a pele encostava-se à dela, pensou até que iria escrever, escrever coisas geniais, literárias, sinestésicas, e blábláblá, mas não, era ilusão pura, pura ilusão, fazia tanto tempo que não escrevia nada, nada, nada, aquela tela branca ficava encarando o rosto de Ana.
Segundos, segundos, tic-tac-tic-tac, parou a chuva, vamos embora, está ficando tarde, ah que bom, carro, trânsito, inferno, certos comentários ecoavam, um desencanto na garganta consigo mesmo, frases também estavam por lá, frases ásperas, frias e secas. Estava calada, alguém perguntava pelo seu silêncio, ela sorria, é sono, claro.
Despedidas frias, não era praxe, desceu do carro, caia um sereno, andou depressa até o prédio, não cumprimentou o porteiro, subiu até o segundo andar de escadas, procurou as chaves parada na frente da porta, sentia raiva, entrou em casa, estava em seu quarto, não tinha mais ninguém, os livros, achou o caderno, caderno vermelho, folhas tão bonitas, desenhos, escritos, poesia, não era lindo, não era nada lindo, era triste, desesperado, arranhava o corpo inteiro, sentiu raiva, muita raiva, e pensou em rasgar todas aquelas folhas, uma por uma, imaginou o depois, a tristeza, o desespero, mas mesmo assim, o impulso concretizou a idéia.
A primeira folha foi com ódio, parecia cortar a pele, a segunda teve vontade de chorar, mas gritava em silêncio que era patética e tola, aquele papel picado no chão, mais de dez folhas rasgadas, histórias, delírios e tanta tristeza, assim, no azulejo de tédio, não era nada lindo, nada era lindo, era tudo tão cinza e cheio de dor.

Ana T

Será que ficou meio incompleto? Desde quando as coisas têm fim?
Câmbio/Desligo

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