quarta-feira, 16 de março de 2011

ternura e remédio.

Metrô lotado, a cidade está cinza (pra variar), minha tosse está pior, as pessoas gritam, às vezes paira um silêncio amedrontador, acho que estou com febre, alguém lê qualquer coisa sobre auto-ajuda, me vem um desânimo acompanhado pelo gosto de remédio. Percebo que o ar condicionado está desligado, “É tudo tão vago como se fosse nada”. Acho que é isso, Caio Fernando Abreu, gosto muito dele. Dormi na tua casa ontem, foi tão conturbado, tudo, não sabia se queria ir, fiquei parada te olhando, senti vontade de chorar, entrei no ônibus bem no último instante, você me olhou sem surpresa, o caminho eu não me lembro, mas foi muito rápido. A conversa ecoa na minha mente agora, gosto de pensar em como suas falas interferem no meu cotidiano, meu cotidiano, meu universo, meu mundo, meu. E como o tempo transforma a importância que dou para as palavras que saem da tua boca.
Não é bem o tempo, minhas, digo, nossas transformações que são acompanhadas pelo tempo. Enfim, tuas frases interferem diretamente na minha vida, hoje de uma maneira mais contundente do que há tempo, tuas palavras rasgam alma. Apesar de brega, é exatamente isso.
Tua casa, me senti bem, teus olhos destilavam monotonia, eu não comentei, senti fome e frio e calor. Senti vontade do teu sexo, da tua boca. Estava com febre, havia perdido a fome, deitou na cama comigo, senti tua saliva, tua pele quente, tua língua quente, eu não tinha muitas forças. Tomei um chá, um vento gelado me fez tossir, você queria destilar uma indiferença, mas tuas mãos sobre o meu rosto negavam qualquer vontade racional. – Vamos dormir? Você disse.
Tomei meus remédios ouvindo tua crítica sobre minha essência hipocondríaca, deitei na sua/nossa/tua cama pequena, e como esperado, a noite foi conturbada, não achava maneira de dormir, quando dormia, acordava, atrapalhei teu sono, teus sonhos, me sentia quente, não tinha ar, abri os olhos sem vontade, tuas mãos sobre meu rosto, tuas mãos sobre minha testa, teus olhos estava fechados, tuas mãos me apertavam contra seu peito, tive vontade de gritar as mais tolas declarações, mas não tinha fôlego.
Você...dormindo...cuidou do meu sono, da minha febre, do meu corpo, da minha alma. Enfim dormi algumas horas, acordei com o cheiro típico do teu café.
Fui embora com resquícios da tua frieza, mas com doses exageradas de sua ternura insana e lúcida.

Ana T.

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