terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
quarta-feira de cinzas
domingo, 5 de fevereiro de 2012
pôr do Sol paulistano
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
então grita
Ler ao som de Paranoid Android - Radiohead
Será que vai ser a vida inteira assim? Essa porra desse cursor piscando em uma página em branco. Vida inteira, como se fosse longa. Ele saiu do trabalho no mesmo horário, carregava sua bolsa de pano, em seu corpo as inquietações gritavam, no elevador se lembrou das conversas insuportáveis, desfez o nó na gravata para tentar respirar um pouco melhor, fechou um pouco os olhos e finalmente saiu daquele prédio de concreto. Assim que seus pés encontraram as ruas da Avenida Paulista, o moço acendeu um cigarro, ah...o prazer. Ela vinha na direção oposta, observou o segundo em que ele busco no bolso o maço de cigarro, depois o isqueiro e por último o gozo. Ficou extasiada, queria aquela sensação, a chuva caia aos poucos, os cabelos estavam molhados. Continuou seu caminho, não fumava havia dois anos, parou na próxima banca – oi, vende cigarro solto? - sim, você tem trocado? – sim. quero um cigarro e um halls preto. – só um? – é. só um. você tem isqueiro? – aqui. A moça demorou um pouco, mas conseguiu acender. Deliciou-se com aquele cigarro, aquele único cigarro. Andou até a estação mais próxima, ficou parada em frente, observando a luz que se exibia sorrindo e deliciosa. Próximo da moça, outro fumava. Ana enxergava a aula de dança que ocorria no prédio da frente, sempre reparava naqueles passos. São Paulo é um cinzeiro. Pichação que Ana amava. Amava tanto. Queria o mundo e a brisa. A brisa queria o mundo. Prédios, quanto prédios, era São Paulo, nada mais do que a São Paulo, nada mais que a porra de um signo, nada mais. Pensou em prolongar seu caminho a pé, mas a chuva e o sedentarismo impediram. Eu só consigo pensar em Ana. Outra Ana deitada na cama, rindo sem parar. Outra Ana sentada no chão lendo Pessoa. – sou viciada em halls preto. – você usava óculos com aro azul. – aos quinze sonhava acordada. – aos vinte não dorme mais. – afinal, o que te grita? – é tanto amor e tanto ódio. Hoje pensei em meus cadernos, meus cadernos vermelhos. – Inventei a Ana para quebrar com o que de mais doce havia em mim. – Fracasso. – É possível gritar de várias maneiras. Não respiro. – Suas coxas são deliciosas. – Vamos dormir. São apenas letras, acho que decorei o teclado, não preciso olhar as teclas, olho apenas para a página. Para o cursor que pisca. O dia foi bom, sem tentativas de suicídios. Sem tentativas indiscretas. Todos tentam suicídios. Alguns enxergam, outros disfarçam. O dia foi bom, ela leu sem bocejar. Havia audácia.Tomou enfim, sua dose de vida. É tanto amor. É tanto ódio por tanto amor. – Às vezes acho que nunca vamos dar certo. Também...o que é dar certo, afinal. – Tentar..alguém ter que querer tentar. – Tentar.. – Não é o mesmo que reformar, Ana. Pára! – Talvez.. – Eu acho que nunca vamos dar certo, não importa o que isso quer dizer, acho que nós nunca vamos estar. Ele está com ela, ele me disse uma noite que gosta dela, uma noite desses bem cinzentas, como aquela..em que o garoto acendeu o cigarro. – Ele gosta dela? – Já disse, por isso eu choro, porque nunca mais daremos certo. – Trágico. – Rum? – Três doses. – Preciso dormir. – Então vamos, porque o meu tempo é escasso. – Você que pensa, mania idiota de querer morrer cedo. – Cadê a raiva? – Cuidadosamente espalhada em cada sílaba. Deguste, há muitos jeitos de gritar...garoto.
então grita
ausência de beijos
da Ana T.
e de tantos