quarta-feira, 16 de maio de 2012

reticências contaminadas

Para ouvir ao som de: Ave, Lúcifer - Os Mutantes

contágio
nos contagiar 
com o sangue que habita
a lâmina afiada (sem qualquer afinação)
contaminar a nós, que já somos tão contaminados
espalhar a nossa angustia, o nosso amargo - o que em nós queima - o que nos tortura
sentir o sangue denso - correndo pelas veias entupidas. tentando correr - mas não consegue. denso e lento. 
arde
 
e nós, transbordando o peso
tentamos 
usar das palavras, dos gestos
para destruir 
o silêncio que sufoca

e desde quando formar sílabas
em formas de som
alteram a ausência do meu tesão?
 
penso
canso
enjoo do movimento
deito na cama e tento dormir
o gosto amargo continua 
em meus travesseiros
colchas
vivo entre lugares, uma espécie de 
limbo quente, emaranhado de tédio
e passividade

nem puta
nem santa
nem viciada
nem sóbria

percorro
recorro aos deuses 
com os olhos entreabertos

o gosto amargo é contínuo
o cheiro doce me enjoa 

o desespero não cessa
a ternura não finda

tropeço
mordisco a última pele
e adormeço.

Um comentário:

Nádia Regina disse...

é sempre tão delicioso!