domingo, 4 de abril de 2010

Sete Belo com Sorvete

"A sua boca tem gosto daquela bala sete belo, sabe?
Fumar, beber, verbos tão literários, cheios de uma vida boêmia, repleta de noite, copos vazios, risadas, poesias, boinas e melodias. Sinto o perfume de toda essa intensidade e tento destilar entre tais linhas.
Palavras..palavras, me perco diante tantas sonoridades...gargalhada, café, brigadeiro, azul, amora, limão, hortelã, abacaxi, doses, homeopatia, insanidade, colegial..colegial..co-le-gi-al, parece sorvete derretendo na boca da menina, menina dos olhos cheios de pureza, mas o olhar dissimulado não consegue esconder o cigarro nas mãos finas, a coreografia que mão faz, dançando entre a fumaça que a boca proporcionou.
Talvez ela não pare de fumar, ela não precisa parar de fumar, afinal...os males nunca irão atingi-la, pois é minha personagem, minha colegial com gosto de sorvete de morango.
Ele também, o que possuiu beijo de sete belo, o garoto pode não fumar na vida real, mas sei que tem medo de agulhas, sonha com elas e acorda assustado, procura algumas marcas pelo corpo, talvez se resolvesse procurar em sua própria mente, certamente acharia, entre sorrisos e gritos, perfume e a pasta de dente..lá estariam..marcas que ardem..queimam...e vão arder para sempre...são os amores mal resolvidos, as cartas de amor extraviadas, a certeza infundada na eternidade que se desfez em frações de segundos, a morte do querubim, são essas cenas, que com o tempo foram estilhaçando, com todo direito ao som ensurdecedor dos vidros quebrando, infinitos pedaços estilhaçados, que cortaram sua mente aos poucos, fazendo com que sangrasse..e talvez um dia elas cicatrizem..até lá..seu medo de agulhas ainda vai te atordoar...dizem que não acaba nunca, que é um conto circular, um ciclo vicioso ou meu dado viciado.
Aqui, sendo meu personagem, ainda quero que você tenha esse medo, as fragilidades das pessoas as tornam mais amáveis.
Agora senta ao meu lado, acende seu cigarro, e segura a minha a mão com aquele olhar sereno, enquanto eu faço café.
Apaga a luz e não me deixe com marcas visíveis, posso fazer cócegas em você?
A tua risada ecoa nas linhas, sabe que quando ri, teus olhos ficam bem pequenos?
Tá certo, eu paro de falar, apaga esse cigarro, deita no chão que eu deito no seu ombro, não sabendo exatamente com o que eu quero sonhar, mas com a certeza de como eu vou acordar, e é sem dúvida com você olhando pra mim. Real, não no meu papel."

Ana T
Março de 2010.

Um comentário:

Filippe F. Cosenza disse...

Tão gostoso de ler quanto sete belo com sorvete. =]