apaga a luz
bate a porta
acende um cigarro
senta no chão
abre o livro
a luz é pouca
os olhos se esforçam
cansados
enxergam a primeira linha
depois se fecham
estão pesados
insistem
doem ardem
a pele reclama do frio
a alma também
fecha o livro
pega no bolso um bilhete
dá um trago no cigarro
quase apagado
lê o bilhete
pela centésima vez
sente o gosto de lágrima
levanta
acende a luz
abre a porta
espera!
não tem como acender a luz sem antes abrir a porta
será mesmo?
abre a porta
acende a luz
mas não se encontra
senta no chão
livros roupas álcool
cheiros
sexo
ternura
tontura
mas não se encontra
deita na cama
sem lençol
está calor
sente um frio
absurdo
está quente
desconforto
no próprio corpo
respira
suspira
abre fecha os olhos
insustentável
tosse
acende outro cigarro
birra
pura birra
tosse mais
mas não se encontra
nem na cama
nem no ar
quer chorar
mas não consegue
não sente
pensa na dor alheia
pensa pensa
mas não sente
talvez dor física
pensa em se cortar
mas faz tempo
tanto tempo
apanha o estilete
faz um corte leve
escorre um fio de sangue
mas ainda assim
não se encontra
tontura
tortura
segue
sangue
sempre se achou tonto
caos
buzinas
São Paulo
tudo grita
levanta
caminha em direção a janela
enxerga a cidade
com suas luzes e dores e brigas e desencontros e amores e ternura
enxerga entre as grades
de plástico ou ferro
visíveis ou invisíveis
entra no banheiro pequeno
já está sem roupa
abre o chuveiro
água gelada
treme muito
enfim sente algo
respira forte
água caindo na pele branca
nos cabelos em cacho
não tem toalha
caminha molhado
se joga na cama
treme muito
se cobre
ainda não se encontra
apesar de sentir
tontura
tontura
tudo gira
pensamentos falares buzinas poluição cigarro nicotina língua sexo pele textura gozo gosto
vento
ventania
tempestade
não controla seus pensamentos
era isso que queria
quase uma inconsciência
comprimidos coloridos
não lembra
não recorda
os olhos não sustentam o peso
fecham
enfim dorme
mas ainda não se encontra
porque sonha
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
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