Eles eram tão novos, ele nem tanto, ela de óculos azul, ele girava a caneta, ela viajando com o colégio, ele na porta do ônibus, o passeio durou uma semana, ouviram a voz um do outro todos os dias, ela esperava o silêncio da madrugada, se encolhia na cama e sussurrava que o amava, ele sorria, eles se amavam, tudo novo, tão novo, ela sentindo o gosto do corpo molhado, ele extasiado de vontade. Durou pouco, tão pouco, a rotina gritou mais alto,a distância também, insegurança, imaturidade, qualquer coisa assim, ela nunca mais achou aquele lugar no parque, aquele....com um banco e uma árvore...a chuva, o céu cinza, o cheiro de grama molhada...aquele lugar que ela havia ido com ele, e girado em seus braços magros e beijado sua boca fina. Sem vodka aos finais de semana, apesar de nova, já bebia, fim das cartas enormes durante as aulas de Geometria, fim da tentativa de estudar Física por meio de aparatos eletrônico, fim, fim, gritava ela, estava com medo, sempre teve medo, outro amor, outro gosto e pele, ele chorou, acordou bêbado em algum lugar, e assim foram se perdendo um do outro aos poucos, o tempo foi passando, um, dois, três anos, ela sempre pensou nele, sempre, era um amor estranho e idealizado, mas era dela, era dele por ele, talvez uma pitada de culpa, pessoas novas, namoros, paixões, amores, amores que a detestavam, sonhos contínuos com a mesma risada, ele nunca a procurava, ela, apesar da memória falha, lembrava das coisas mais banais, aniversário, o dele e o seu, curioso isso, quando completou vinte e três anos, completamente ébria, voltando de uma comemoração atípica, parou na frente do primeiro orelhão e ligou pra ele, atendeu uma moça, ela chorou, chorou porque ele não ligou, chorou porque se sentia ridícula e presa a um passado idealizado. Ele nunca a respondia, mensagens, cartas, telepatia e sintonia, ela não, ela sempre estava lá, sentada sorrindo, não que o amasse ainda, nada disso, era outra coisa, com ela sempre era outra coisa. Uma briga, um fim de algum relacionamento ou nada disso, só sei que ele a procurou, falava falava falava, ela tinha uma certa dificuldade em lidar com fantasmas, mas o ouvia, o escutava com o corpo e com a alma, a intimidade estava ali, parecia intacta, apesar da ausência do contato físico, às vezes ela se espantava – meu deus, já faz tanto tempo! Antes ainda havia algum atrito sexual com esses dois (?), hoje eu não sei. Ele voltou, ela nunca havia saído, talvez fosse uma obsessão. Ele perguntava o telefone dela, ela dizia sorrindo e depois complementou – eu nunca, nunca me esqueci de seu telefone.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
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3 comentários:
...
bonito...
...
me faltam palavras.
mas eu sei que vc sempre entende
sente-se o gosto no tempero das palavras
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