E as conseqüências daqueles exames vieram a tona para Ana, que os expressou para Paulo, o próprio foi obrigado a dizer que já sabia, ela ficou um pouco irritada com ele, mas o Neruda em cima da cama com um laço vermelho a fez sorrir.
Ana ficou mais magra, Paulo também, ele não acordava mais Ana com o cigarro aceso, um suco de abacaxi com hortelã roubou o lugar, ela gosta de como o cabelo do Paulo cai, e o jeito como ele escreve, ele gosta dos quadros que Ana pinta.
Um dia ele resolveu colocá-los todos pendurados em lugares aleatórios da casa, ela não acreditou, por um lado ficou feliz por outro constrangida, sua arte era muito íntima para enfeitar os cômodos.
O Paulo ainda se irrita por causa da toalha molhada em cima da cama e do jeito como a Ana ri quando o vê balbuciando, o Paulo gosta de trazer morangos para Ana, ela não esta tão magra, mas o suco continua dando o ar de sua graça nas manhãs.
Abriram a caixa de Pandora e o passado de Ana a encarou friamente, as lágrimas fizeram do silêncio escurecedor, o Paulo viu tal cena, tantas cartas e papéis de bombons destilando a nostalgia diante os olhos de Ana.
Ele ficou encostado na porta e chorou sozinho no banheiro depois, a Ana sabe que ele viu e sabe que ele chorou, o passado nunca foi tão sombrio.
Mas a eternidade não existe nem nas angustias mais intensas, o Paulo viu a maneira como a Ana bebe água, semelhante a uma criança e sorriu, ela se desconcertou com aquele esquivo olhar imprevisível.
O Paulo gosta da Ana por cima e a Ana gosta dele com ar de professor, ela gosta que ele fique no controle [as intensidades de um passado não tão recente negam tal conclusão], ela gosta de morder e de arranhar e quer que Paulo faça o mesmo com ela.
Ana tem medo do barulho ensurdecedor dos talheres ecoando nos pratos vazios daqueles casais que já se acostumaram com o silêncio do mastigar alheio.
O Paulo e a Ana buscaram novos exames, a Ana chorou, o Paulo a rodopiou no colo, a Ana sugeriu uma lanchonete, mas o Paulo preferiu a surpresa do vinho, as lágrimas vistas pelo reflexo do espelho cessaram, os quadros de Ana tem mais brilho e os poemas de Paulo mais delírios.
O suco de abacaxi de hortelã virou rotina, mas aquela rotina gostosa...como o nosso espreguiçar, o cigarro aceso vem como as chuvas de verão e a caixa de Pandora com o passado de Ana está escondida entre as nostalgias dela.
As vezes o Paulo chora sozinho na varanda, mas quando ele se depara com a textura da pele de Ana, a eternidade monótona se transforma em efêmera.
E assim está bom, podem negar a existência da eternidade no amor, mas afinal, ter tanto de você em mim já não te torna eterno?
[ Tal texto foi totalmente inspirado em um pequeno conto de um garoto chamado Marcelo.
O blog dele é: http://potedebiscoitos.wordpress.com/2009/05/24/por-hora-tumblr-110309/ e o título é – Por Hora. ]
[ A foto é de João Paulo Saint Simon, meu irmão e melhor companheiro de viagem. ]
É isso senhores, câmbio e desligo.
Raquel.
domingo, 31 de maio de 2009
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4 comentários:
Eu adorei!
Quanta simplicidade!
Quanta sabedoria!
Ahh, eu tive tantas impressões lendo o texto!
Depois converso contigo no msn!
Ficar especulando aqui ia demorar demais!
O melhor que eu já li aqui,
sem dúvidas.
*-*
A Ana... o Paulo... que triste. Se você ler Caio Fernando Abreu aí a coisa ficaria depressiva de verdade!
A última frase está muito bonita. Me lembrou uma frase do Hobsbawm, na Era dos Impérios. Ele diz (mais ou menos) que precisamos estudar o passado porque não estamos mais nele, mas não sabemos o quanto dele ainda está em nós.
Beijo, baby! Obrigado pelo "melhor companheiro de viagem", a recíproca é mais que verdadeira! Quando vamos para Havana????
ah! que achei?! Vim com o ônibus "pote de biscoitos". Grandes vocês. E lindos!
maano...bonito.
olhar de fazer falta.
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