quarta-feira, 20 de abril de 2011

vontade enlatada

De um role por ai, jogando teu corpo no mundo, uma garrafa de audácia, uma? estilhaçar o subjetivo, menos adjetivos, por favor, tirar do vocabulário o verbo idealizar, me traz você sem texto sem cinema, não faz do sexo um problema, dançar, qualquer coisa que gaste toda energia, sem caneta, sem papel, queimem os livros, fale, grite, expresse, expressar. Três garrafas de insanidade, sem homeopatia, por favor, essas coisas não funcionam, ah...perdão é automático, não peço mais, diminuir o por favor, eles me irritam, dissolver o ácido lisérgico na boca, sentir o gosto da saliva, erro, imperfeição, suor do corpo, lençol amassado, cama sem lençol, eu sempre tiro mesmo, sem escrever textura, a palavra já não agüenta mais esse mundinho monótono, vamos superar o quase e matar a quarta-feira cinzenta lá fora, mas só se for nesse instante, já, uma pinga para comemorar. comemorar a ação, o sair do papel, a coisa é mais embaixo, tirar do mundo da idéias, agora! Já.

Beijos melados da Ana T.


referências - são tantas tantas tantas.....elas existem...faz zumzum e pronto!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Canoa Quebrada

Domingo, fim de tarde, praia, brisa boa, gostosa, acende, passa sem presa, olhar nos olhos, falar do cosmos.

- Sonhei que você era uma lembrança minha.

Tocava Novos Baianos, o Mistério do Planeta.

- Que bonito, Ana.

- Tu sabe que eu também achei? A luz meio amarelada, praia, parecia anos setenta.

Os olhos bem verdes sorriam, maduros e puxados.

- Eu como lembrança, sou diferente?

- Idealizado como de costume.

- Ana Ana.

- Teu sotaque ficava ecoando na minha mente. Teu corpo leve. Parecia que o Caetano cantava pra compor a cena.

- Que música?

- Trem das Cores.

Ele deitou no colo dela, Ana encostou levemente os lábios nos olhos verdes, fios de cabelo dificultavam a visão, o garoto não se importava com o que não enxergava.

- Aposto que você usava um chapéu branco.

Ela riu com o canto da boca.

- É, aquele mesmo. Talvez tocasse Acabou chorare e não Trem das Cores.

- Respirei eu fundo.

- Foi-se tudo pra escanteio.

- Lembra, Ana?

Ela respondeu com o corpo.

- E lembrança tem gosto?

Os olhos dela repousaram no ar.

- Tem sim, gosto e cheiro.

Ele gesticulou dúvida com as mãos.

- Gosto? Gosto da tua saliva com a minha, gosto da pele sabe? Cheiro era esse, esse teu cheiro aqui....

Dizia ela passando as mãos bem na volta entre o ombro e o pescoço.

Ele desmanchava doce, se ajeitando para facilitar o carinho.

- Mas gosto e cheiro e tato vinham ao mesmo tempo sabe? Uma sinestesia danada de boa.

- Sei não, Ana.

- Tu tá se sentindo condenado ao estado de contemplação plena?

- Talvez.

- Ana, me tira da lembrança?

- Todos os dias, e te faço presente em mim.

- Em nós. É cíclico.

- Tão gostoso.

- E leve.

-Ternura que desmancha o corpo.

- Ana, me beija.

- Eu beijo.

com toda aquela malemolência.


Beijos da Ana T.

domingo, 10 de abril de 2011

Errata do Fim

Injeta

Injetar

Injete em ti as esperanças de mim

Injete em mim a ausência de ti

Injetar de manhã

Arder à noite

Que escorra pelas nossas veias

frieza indiferença

Desintegrar teu rosto em minhas lembranças

Tirar teu gosto

Tua textura

Injeta a dor, me anestesia do

teu silêncio

me arranca o verbo esperar

eu quero injetar em mim

qualquer coisa sem você

me conte teus absurdos

quero ouvir teu não

injetar a casa vazia

desintegrar o teu corpo no meu

injetar em mim

teus novos amores

a falta de ar

injete teu sorriso

que não é pra mim

eu quero injetar em mim

qualquer coisa que me afasta de ti

arder muito

injetar mais uma dose de masoquismo

com pitadas de sadismo

tardes com sol

na varanda,

teu cabelo loiro

fumaça do cigarro pairando

teu beijo na minha boca

injetar descanso na cama

o café requentado

outra seringa, por favor

injete alegria

desmanchar na tua boca

eu quero injetar em mim

qualquer coisa que seja

você


Ana T.

domingo, 3 de abril de 2011

quase


Ler ao som de: Noite Severina

O corpo era esguio, as mãos fugitivas e os dedos finos seguravam o cigarro, um copo de vinho ao lado, talvez por isso fumasse, não era algo cotidiano, precisava estar ébrio para tal, os olhos tristes, um silêncio quase insustentável. Ana simplesmente estava lá, ele sabia que ela viria, ela se aproximou, mas sem se encostar, a fumaça pairava.
O jeito como ele segurava o cigarro, destilando certo desdém, atraia Ana, assim como os pulsos finos e a magreza escancarada, a fumaça a despertava, enevoando o ambiente e suas almas. Próximos, enquanto cegos pela ebriedade e atados pela fumaça que os cercavam, sentiam-se mesmo sem se tocarem.
- Ontem quando me deitei, não conseguia dormir, parecia que existia alguém ali, próximo, me olhando, não senti medo, foi sinestésico.
- Ontem quando me deitei, fiquei com uma sensação que estava te olhando Ana. Sentia-te tão próxima.
Os olhos dela ficaram maiores diante daquele comentário, se aproximou mais, talvez para escutar atenta o que os lábios dele diziam.
- Eu sei, foi estranho.
Ana olhou baixo, sempre desviava o olhar, uma timidez boba.
- Sentia você próximo, parecia que podia te tocar, mas sentia que se concluísse tal ação, teu corpo desintegraria diante dos meus olhos.
Ele quase sorriu, tentou acompanhar os olhos dela, e com uma voz baixa e calma falou:
- Eu sei Ana, é como quando tentamos beijar os lábios que não estão lá, pois tudo ia desvanecer, por isso só fiquei olhando, conferindo pra ver se você tava lá, mas sem fitar tempo o suficiente para eu notar que não.
Ela sorriu, fez alguma movimentação com as mãos, acendeu um cigarro, lábios finos, tragou.
- Sabe, estava tudo tão pesado, essa energia cósmica insustentável, e de repente essas nossas conversas me fizeram, fazem, tire o tempo dos verbos, vai além disso, muito bem, de verdade.
- As nossas conversas me parecem tão tão tão sólidas e atemporais, perenes demais para serem localizadas ou restringidas.
Ele sempre conseguiu expressar em palavras o que ela tentava descrever. Ana sentiu vontade de tocar a pele dele, estava tão próxima, o olhar resolveu parar de fugir, eles se olharam, se fitaram, a fumaça pairava, querência, desejo, pele e toque, quase.
Ela sorriu com a boca e com o corpo:
- Sempre fui viciada em escritos, vivo me confundindo entre o que escrevo e o que vivo, pairando entre as duas realidades, talvez perdida, viciada em tudo o que pode vir a ser um conto, nos toques, na respiração mudando de ritmo, mas ultimamente não conseguia sentir nada, era uma ausência insuportável de sensações, talvez com essas nossas conversas, eu tenha voltado a sentir cada palavra tua, cada palavra que sai da tua boca.
- Eu gosto de toques, não tanto como de sons, mas acho que por ter sentido você, não me dei por satisfeito somente com sons, e necessitei de toques.
- E eu fugi deles.
- Eu notei, Ana.
- Não entendo, eu gosto de tato, eu sou totalmente ligada nisso, pele, textura.
- Talvez eu tenha me enganado e Ana T. seja Ana Toque e não Ana Terna.
- Ou Textura, vai saber.
- Textura é inação. Algo que é. Sem vontade ou algo que o valha por trás. Toque não. Toque é atitude. É desejo, é Vontade.
- Mas textura, textura não se fala. A pele não gosta que saiam por ai falando assim, jogando ao ar a palavra: Textura. A boca tem que sentir, por mais clichê que seja. Lábio descobrindo a textura da pele.
- Toda descrição é vã. Acho que por isso não se deve falar de textura.
- Nem de toques, desejos, vontade
- É quase herege você excitar imagens e sons, atiçar-se olhos, ouvidos com textura, quando o único que realmente pode ser satisfeito por isso não está disponível: o toque.
- O toque como ação. Mas nós nos deliciamos com o quase, os poetas, escritores… que seja, qualquer que escreva, qualquer cena escrita é capaz de arrepiar.
- Todo escritor antes de mais nada é um sado masoquista. De se excitar e se martirizar pelo que cria e escreve. Principalmente quando não pode alcançar.
Ana se aproximou mais, o cigarro já havia acabado, ela sentiu vontade, desejo, ele sentiu o corpo estremecer, as pontas dos dedos pareciam se encostar, o arrepio emana da boca, mas percorre o corpo inteiro.
- Que metalinguagem absurda essa conversa.
- Ana.
- Que foi?
- Eu queria ter um toque seu pra lembrar.
- Não tem nenhum?
Dizia ela perdida entre suas memórias deturpadas.
- Tenho toques meus, vários até, quase toques também, mas não tenho um toque seu.
- Eu me lembro das tuas mãos em minhas pernas, e eu fingindo que não estava percebendo.
- E eu fingindo que você não estava percebendo. E eu sem saber o que havia em mim, o que me impedia de ser razoável e sair dali, ou ao menos tirar minha mão de sua coxa.
- Lembro-me vagamente da tua mão no meu pescoço, eu não sei se me fazia de tonta, ou realmente não estava entendendo nada, talvez um pouco dos dois.
- Eu me lembro da sua relutância, mas não soube interpretá-la.
- Nem eu explicá-la.
- Mas me pareceu justo fazer algo já que não me parecia possível ter seu toque, quis guardar tua textura.
- E guardou?
- Sim, resistiu inclusive a ebriedade, porem se desvanece.
- Eis a beleza do quase, do quase beijo, a perfeição pura. Perfeição insustentável.
A alça da blusa escorregou pelos ombros brancos, ela queria que ele descobrisse seu gosto, queria se arrepiar com a respiração dele, as palavras imploravam por descanso, a pele exigia o toque.
- Vontade de sentir teu cheiro. Bem ai, entre o seu pescoço e seu ombro esquerdo.
- Vontade de sentir você sentindo meu cheiro. Eu quase sinto teu toque, primeiro nas pontas dos dedos entrelaçando-se, teu cheiro, minha respiração em teu pescoço, tua mão em minha nuca.
- Mordisca a orelha, passa os lábios em direção aos teus, toque que escorrega e desce, orelhas, pescoço e ombros.
- Não beija.
- Provoca. Lábios descem até o ao pescoço, arranhar as costas, o corpo estremece.
Ana suspirava, acendeu outro cigarro, colocou a boina vermelha, tirou a boina, estava com a pele em chamas, o corpo quente, sinestesia escorria em suas veias. Sinestesia e vontade.
- Com boina ou sem boina? Escolhe.
Dizia ela tentando recuperar o ritmo da respiração.
- Com a boina, deixa eu me sentir o Bertolucci, te vendo francesa. Sim, eu sei que ele é italiano.
Quanto desdém, ele também havia acendido outro cigarro, o corpo dele também queimava aos poucos, queria sentir arder suas costas com os arranhões dela.
- Sinto sono.
- Deita comigo.
- Deito. Qual será meu gosto na tua boca?
- Algodão doce. Acho que imagino teu gosto em mim como algodão doce, sabor e textura.
- Teus lábios beijando meus ombros.
- Ana, quero tanto te abraçar.
Ele se aproximou, quase sentiam a respiração um do outro.
- Teu abraço me faz bem.
Ele sorriu, não era muito de sorrir, um sorriso doce, talvez um leve desespero no olhar.
- Parece que estamos presos ao segundo que antecede a língua descobrindo o gosto da pele.
- É. Quero o erro, respiro teu desejo.
Os lábios se convocam, estremecendo esquentando arrepiando, os dedos quase escorrem pelo corpo outro.
- Ana, e se eu tocar você agora?
- Eu desintegro.
- Melhor não descobrirmos as ausências, não ainda.


PS: Esse conto não é de autoria apenas minha, foi escrito em conjunto.
a foto é minha e deu trabalho.

câmbio/desligo.
beijos da Ana T.
quase beijos.

sábado, 2 de abril de 2011

leveza


Para Ana e André:

Ana, Ana, Ana
Ana do Caio
Não perca sua textura
Nem tua ternura
Não perca a utopia
Ana sem rima, Ana sem rumo
Nem prosa, nem poesia
Não suma entre as paginas
Não chore tanto
Ana, Ana, pare de fumar
Quebre o cotidiano, fuja das reticências
Paire Ana, voe
Sai dos nós, viva Ana
Não se perca em seus contos, nem nas frustrações de seus personagens
Serão personagens?
Ana, quero tua leveza
Teu sorriso de menina.

Eu quero ir pra praia.
Eu quero beijar tua boca devagar.
Eu quero comer frutas.
Eu quero pairar.
Alguém me leva pra comer algodão-doce?
Quero um parque bem bonito.
Eu quero um árvore de amoras, isso meu amor, amoras.
Amoras, amar o mar e delírio, flor de lírio, flores e amoras.
Clichê e piegas, me leva ao cinema, sábado e pipoca.
Beijos estalados, gargalhadas e olhares de amêndoa.
Um bilhete entre as paginas do teu livro, ternura no espelho embaçado.
Paire.


câmbio e desligo.
Raquel, Raquel e Raquel.

ah, agora eu tenho um flickr: http://www.flickr.com/photos/livredosconceitos
essa foto é de lá.
besos.
Raquel.

era pra eu ter postado isso no dia 28 março, mas o blogspot não me permitiu.