Domingo, fim de tarde, praia, brisa boa, gostosa, acende, passa sem presa, olhar nos olhos, falar do cosmos.
- Sonhei que você era uma lembrança minha.
Tocava Novos Baianos, o Mistério do Planeta.
- Que bonito, Ana.
- Tu sabe que eu também achei? A luz meio amarelada, praia, parecia anos setenta.
Os olhos bem verdes sorriam, maduros e puxados.
- Eu como lembrança, sou diferente?
- Idealizado como de costume.
- Ana Ana.
- Teu sotaque ficava ecoando na minha mente. Teu corpo leve. Parecia que o Caetano cantava pra compor a cena.
- Que música?
- Trem das Cores.
Ele deitou no colo dela, Ana encostou levemente os lábios nos olhos verdes, fios de cabelo dificultavam a visão, o garoto não se importava com o que não enxergava.
- Aposto que você usava um chapéu branco.
Ela riu com o canto da boca.
- É, aquele mesmo. Talvez tocasse Acabou chorare e não Trem das Cores.
- Respirei eu fundo.
- Foi-se tudo pra escanteio.
- Lembra, Ana?
Ela respondeu com o corpo.
- E lembrança tem gosto?
Os olhos dela repousaram no ar.
- Tem sim, gosto e cheiro.
Ele gesticulou dúvida com as mãos.
- Gosto? Gosto da tua saliva com a minha, gosto da pele sabe? Cheiro era esse, esse teu cheiro aqui....
Dizia ela passando as mãos bem na volta entre o ombro e o pescoço.
Ele desmanchava doce, se ajeitando para facilitar o carinho.
- Mas gosto e cheiro e tato vinham ao mesmo tempo sabe? Uma sinestesia danada de boa.
- Sei não, Ana.
- Tu tá se sentindo condenado ao estado de contemplação plena?
- Talvez.
- Ana, me tira da lembrança?
- Todos os dias, e te faço presente em mim.
- Em nós. É cíclico.
- Tão gostoso.
- E leve.
-Ternura que desmancha o corpo.
- Ana, me beija.
- Eu beijo.
com toda aquela malemolência.
Beijos da Ana T.
4 comentários:
ah, você. Eu me apaixono.
Masoquista, logo prazeroso
Masoquista logo não digo nada, logo não sobra o nada, resta dúvida e pitadas de ternura.
Cativante. Vontade de sombra, rede e Ana. ;)
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