sábado, 18 de agosto de 2012

Ela.


Para ouvir ao som de: Os Povos - Clube da Esquina

Oi. Hoje acordei e estava um dia ensolarado. Sabe, acho que a verdade é que eu detesto esses dias lindos. Detesto sim, porque sei que você os adora. Porque sei que eram esses sábados ensolarados que eu vestia um pano qualquer e ia correndo pro teu jardim. E hoje eu acordei e voltei a dormir, e acordei novamente e voltei a dormir mais uma vez, e isso aconteceu de novo, mas tive de acordar alguma hora, tive de levantar da cama e olhar para o sol, olhar para essa luz insuportável que me faz lembrar todos os gostos dos nossos sábados. Eu estou bem, minha saúde está cada vez melhor, ando rindo bastante e me exercitando, mas esses dias ensolarados, esses sábados ensolarados rasgam o meu pulmão aos poucos e assim vou ficando cada vez mais sem ar. E eu me deito na cama e choro, choro tímida, choro para passar, choro porque não sei o que fazer com esse sol, porque não sei o que fazer com esses dias, com esse vinil que não para de tocar. Essa nova relação me assusta, sei que preciso me acostumar, mas ainda é tão difícil, ela é tão fria e tão distante, ela não me cobra satisfações e eu fico feliz com isso, mas ela não me escuta em nenhum momento, às vezes sinto sua respiração gelada antes de dormir, talvez seja o único momento em que sinto a presença dela mais concreta, de resto, ela ocupa o meu corpo, minhas veias, meu choro, mas não sabe andar de mãos dadas, nem sonhar, porém com ela, consigo escrever boas prosas e sambas tristes. Preciso me acostumar, ela é fria, mas nunca me deixa. Um dia desses, eu a encaro. Imagino-a alta e gélida. É a Solidão, com gosto de vidro e corte. A imagem dela se confunde com a da Morte. A música cessa e eu me levanto com ela. Logo, você se acostuma. Ela me diz em um sussurro gélido. Acredito. Logo, eu me acostumo.

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