domingo, 4 de agosto de 2013

amarelo

O vazio me incomoda. E eu te pergunto, mas que vazio? Ou melhor, qual vazio? Agudo? Não sei, ele responde. Sabe, ontem no metrô eu encostei a cabeça no vidro e pensei na morte. Pensei se vale mesmo a pena toda essa palhaçada. Na hora, a resposta foi não. Apesar do medo de reconhecer. Estava triste. Bem triste. Infeliz. Atravessada por unhas roídas e pequenas peles sangrentas. Estava naquela restaurante opaco. Com todos consumindo sem cessar, com todos buscando pelo tom de voz mais alto para conseguir se expressar. Uma disputa incessante. Eu não falo, mas não pense que é por audácia. A preguiça me consome. As paranóias também. E a comida não desceu bem. Travou na garganta. E você apareceu no meio daquela ladeira. Te achei em Minas Gerais pela segunda vez. te achei não sei faz quanto tempo. Você me olhou me abraçou e ficou perto de mim. E eu me senti tão bem. Tão leve. Respiro. E ontem foi assim também sabe, a sua casa, as escadas e a tua cama. Tão grande e tão cheia da gente. E você fica bêbado muito rápido. E passa suas mãos geladas sobre minha pele fria. aperta meu pescoço com as pontas dos dedos longos e finos. eu olho feio, mas derreto em seguida. Eu quero me sentir bem. Há mal nisso? Quero um balão de ar.
Dormir com você é um lance banal. Sem explicação por hora, quero usar a palavra banal.
Nos mexemos muitos. Inquietos até no sono no sonho. Então acordávamos juntos. E nos mexíamos. Era quase um ritual. Foi um sono forte, gostoso e doce. sonhei com você. estávamos num cômodo de uma casa, talvez esta, e você me aparecia com um pequeno ramalhete de flores amarelas. Um sonho bom.
Estou com sua blusa agora. Ela é azul e preta. Na nossa primeira viagem você a usava. Eu reparei nos traços. Sinto sono. E não te acho na cama agora.

É, ele tem cachos, fecha os olhos com vontade e é a sede que escorre dos dedos. que transborda da pele e para pele. Boca fina, rasgo os lábios que queimam. Às vezes me desconcentro. Me desconcerto com as sílabas daqueles olhos. E de repente numa conversa assim na beira da escada, ele me disse com sede que vale a pena viver. Ele me disse – É terrível. E eu concordei, é mesmo, é terrível. Mas....

Um comentário:

Brisa disse...

Que delicia de texto,
lembrei do poema do Bandeira, Felicidade.