- você não escreve mais?
- não.
- por que?
- ah....
- eu gostava das coisas que você me escrevia.
- teu olhar era viciado.
- tá vendo como você ainda escreve.
- às vezes eu até sinto vontade sabe...mas ai eu começo a me analisar...e a vontade some.
- não cara, escreve e pronto.
- é que geralmente quando eu sinto vontade eu estou deitado.
- ah, para com isso né...tenha um bloquinho ao lado da cama.... escreve...gostava tanto dos teus escritos.
- já disse que teu olhar era viciado.
- bonito isso...olhar viciado...podia até ser, mas eu também escrevia..e não era qualquer coisa que eu gostava de ler, nunca é.
- você escreve ainda né?
- acho que eu vou escrever pra sempre.
Ele riu, os olhos eram esverdeados e os cachos castanhos.
Ainda estava inconformado com o fato da sua primeira namorada já estar trabalhando.
- Como isso? Estou me sentindo velho! Será que já faz tanto tempo assim?
- Já cara, um bom tempo.
- A gente estudou junto no Jardim de Infância.
- Tá, mas disso a gente nunca lembrou.
- Como assim?
- Ué, quando a gente começou a namorar eu não me lembrava de você criança.
Os olhos dele desviaram dos dela.
- Eu sabia quem você era....mas...era tanta timidez em mim.
- Ah..sabia nada.
- Sabia sim...
- Eu também era tímida.
Ele deu uma gargalhada gostosa, ela sorriu um pouco tímida.
- Borboleta...
- Anjo!
- Cada coisa que a gente inventa né não?
-Pois é.... bom, to indo embora do trabalho, finalmente.
- Vai lá, vou ver se ainda pego o bandejão aberto!
- O tempo passou né?
- Pois é.
- Viu...
- Oi?
- Volta a escrever.
- Quem sabe...
- Escreve pra mim....
Ele sorriu..um riso inocente, como aquele da adolescência...
- Será que o teu olhar ainda é viciado?
Ela encarou os olhos esverdeados dele.
- Será que você ainda escreve bonito?
Se beijaram no rosto e foram embora, cada um pra sua vida.
Ah..as memórias inventadas...ah...o passado idealizado.
Beijo com pinga.
Beijo com cachaça!
Beijo para borboletas e anjos.
Um comentário:
Ah as memórias inventadas, sem elas eu não viveria. Belo texto, saudosa gata. Um beijo.
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