segunda-feira, 4 de julho de 2011

olhar viciado

- você não escreve mais?

- não.

- por que?

- ah....

- eu gostava das coisas que você me escrevia.

- teu olhar era viciado.

- tá vendo como você ainda escreve.

- às vezes eu até sinto vontade sabe...mas ai eu começo a me analisar...e a vontade some.

- não cara, escreve e pronto.

- é que geralmente quando eu sinto vontade eu estou deitado.

- ah, para com isso né...tenha um bloquinho ao lado da cama.... escreve...gostava tanto dos teus escritos.

- já disse que teu olhar era viciado.

- bonito isso...olhar viciado...podia até ser, mas eu também escrevia..e não era qualquer coisa que eu gostava de ler, nunca é.

- você escreve ainda né?

- acho que eu vou escrever pra sempre.

Ele riu, os olhos eram esverdeados e os cachos castanhos.

Ainda estava inconformado com o fato da sua primeira namorada já estar trabalhando.

- Como isso? Estou me sentindo velho! Será que já faz tanto tempo assim?

- Já cara, um bom tempo.

- A gente estudou junto no Jardim de Infância.

- Tá, mas disso a gente nunca lembrou.

- Como assim?

- Ué, quando a gente começou a namorar eu não me lembrava de você criança.

Os olhos dele desviaram dos dela.

- Eu sabia quem você era....mas...era tanta timidez em mim.

- Ah..sabia nada.

- Sabia sim...

- Eu também era tímida.

Ele deu uma gargalhada gostosa, ela sorriu um pouco tímida.

- Borboleta...

- Anjo!

- Cada coisa que a gente inventa né não?

-Pois é.... bom, to indo embora do trabalho, finalmente.

- Vai lá, vou ver se ainda pego o bandejão aberto!

- O tempo passou né?

- Pois é.

- Viu...

- Oi?

- Volta a escrever.

- Quem sabe...

- Escreve pra mim....

Ele sorriu..um riso inocente, como aquele da adolescência...

- Será que o teu olhar ainda é viciado?

Ela encarou os olhos esverdeados dele.

- Será que você ainda escreve bonito?

Se beijaram no rosto e foram embora, cada um pra sua vida.

Ah..as memórias inventadas...ah...o passado idealizado.

Beijo com pinga.

Beijo com cachaça!

Beijo para borboletas e anjos.

Um comentário:

Paul R. disse...

Ah as memórias inventadas, sem elas eu não viveria. Belo texto, saudosa gata. Um beijo.