Ela correu pra pegar o último metrô, ele ficou, ele ficou porque ela pediu com o corpo, ele queria ir embora, ela sempre acha que sabe o que ele queria, mas nunca sabe.
O telefone insistiu em tocar, tocou tocou tocou só tocou, ninguém atendeu do outro lado da linha, ela estava deitada, degustando a sensação que invadia a sua boca, gosto amargo, tentou mais uma vez, levantou, tomou um gole da água, mas o gosto não saia, checou os meios de comunicação, sentiu uma típica falta de ar, pensou na vida, nos ladrões de bicicletas, cachos, vírgulas, ponto, tristeza, distração, pensou no céu que observou fugindo, penso nele e naquele par de olhos expressivos – meu deus. não dormia, apesar do sono, ligou pela quinta vez, já se sentia patética, nada, nada, aquele barulho incessante, teve vontade de estilhaçar aquele aparato, teve vontade de correr e cansar o corpo, pensou em aparecer na porta de Theo, talvez pudesse preparar um bolo de maçã com canela, ou biscoitos de aveia e mel, tanto faz. Fim e afins, que vício ridículo, contos circulares moram em mim, não sou tão louca quanto aparenta, nem sou louca, quero carinho e atenção, beijos e gosto de baunilha, nada de esotérico ou incomum, a normalidade a amedrontava, a loucura era sua licença poética para vida, teve vontade de chorar, mas não chorava há tempos, teve vontade de caminhar até o trabalho de Theo, mas não foi, pontos e virgulas se encontraram, interseção, beijos aleatórios, sexta sem o teu corpo, inventar a tua tristeza pra dormir longe do teu corpo, inventar um propósito para sentir raiva, Ana sentiu uma leve tontura, tomou o terceiro remédio para dor de cabeça e foi tentar dormir, afinal, no dia seguinte, era tudo igual.
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