Tenho frio!
Vá embora antes que eu chore
Tenho frio!
Vou trancar-me
Para nunca mais abrir
Pro sabor dos nossos sonhos
Não fugir
e a casa a sufocou, as paredes também, queria respirar, queria ar, queria qualquer coisa que não fosse dor, dor alheia, tentava quebrar as paredes mas não conseguia,não conseguia, parou de tentar, as paredes ficavam cada vez mais estreitas, não respirava nem chorava, assistia em silêncio, sem gritos, sem lágrimas sem qualquer tipo de manifestação, ah..amor…esse mundo insano louco doente…
Cléo e Daniel, é…faz sentido, céus, faz sentido...
Agosto começou cinza e frio. Comprei o último maço de cigarros e tomei um café.
Não dormi quase nada, falei teu nome durante a madrugada, não te achava na cama, mas eu nunca te acho. Não sei por que ainda insisto em procurar.
Tive sonhos conturbados, a tosse não me deixa em paz. Faz um ano que morri de intensidade, bebi incessantemente do teu corpo, arranhei tuas costas até sangrar e me diz o que ficou? Tudo.
Parei de pensar nisso, mas era a mesma cama, o lençol no chão, a lua, janela aberta, lembra da pneumonia que pegamos depois de tudo isso?
Porra, como doeu te ver indo embora, porra...doeu demais!
Lembro de você sentado na minha cama, comigo no teu colo, tentava não chorar, você me beijou o rosto, me abraçou o corpo e a alma e disse que era pra sempre. E é! Ou pelo menos foi. Sentados no chão fumando um cigarro, qualquer assunto, qualquer bobagem.
Porra, eu não me lembro direito, isso me mata, memórias criadas me assombram.
Lembro do teu gosto misturado com o de cigarro, falávamos da fumaça, falávamos de qualquer coisa, literatura russa, química orgânica, jogos de carta, dança contemporânea, bossa nova, vícios, sexo e fizemos sexo a noite inteira, e eu não me lembro, eu não me lembro como eu gostaria de me lembrar, os nervos já estão demais de gastos.
Talvez eu só não consiga mais sentir a flor da pele. Talvez, eu disse talvez....
Porra, foi tão forte, tão cheio de reciprocidade, depois acendemos outro cigarro, o quarto estava uma bagunça, meu ar faltava, encontrava-o na tua boca, não parávamos, era o terceiro dia, havíamos perdido a noção do tempo-espaço, o corpo fraco, sem qualquer tipo de alimento, sem água nem sol. Era só teu corpo no meu, um ritmo eufórico alucinante, não conseguia sair dali, concentração plena no caos, no teu corpo esguio, sem possibilidade alguma de tédio, nos arranhávamos como se aquelas marcas fossem deixar à flor da pele todas aquelas sensações eufóricas e prazerosas.
Pitadas de masoquismo e alguma dose de sadismo, SIM, com a gente é pele, tesão, era forte demais porra. Era sintonia plena, alma e corpo.
Ai cara, eu te mandei ir embora e você foi, depois de tanto tempo, você foi embora, até hoje eu não entendo o motivo de ter saído de casa, me olhei no espelho pálida, o corpo fraco, tontura, sexo, eu queria mais... não tínhamos pressa, nunca tivemos, depois que li tua mão eu já sabia, mentira.
E ai a gente saiu na rua, a luz na nossa cara pálida, poluição entrando nos pulmões, os cachos desarrumados, os meus enroscados nos teus, e eu apertava tua mão tão forte, quase a arranhava com minhas unhas roídas. E você me segurava com força, sentia teu corpo tremendo, olhares de censura por toda parte. Eu deveria ter gritado – VOLTA! VAMOS VOLTAR, PORRA! Mas já estava tudo tão sem nexo, o quarto já deveria estar arrumado, sem o nosso cheiro, o lençol esticado. Continuávamos tropeçando no corpo um do outro, aquela claridade insuportável, vozes&buzinas&gente-gritando- qualquer-coisa-sem-relevância.
O transporte público, nós dois sentados na estação de metrô, eu não conseguia falar absolutamente nada, chegamos, aquele lugar místico, encontros e desencontros escancarados, energia em movimento, ai você comprou sua passagem, e eu calada dentro daquele silêncio, tossíamos sem parar, escrevi teu nome, tua mão tremia tanto.
Eu te abracei tão forte com toda a energia que faltava no meu corpo e você me abraçou tão pleno, e eu transbordei, a palavra tropeçou da minha boca, puxando a outra, e eu disse eu amo você, eu disse que te amava, e meus olhos gritaram, meu corpo não agüentava mais, e você gritou que me amava eu amo você.
E eu sabia que era verdade, apesar de nem saber mais o que significa essa palavra. Eu sentia que te amava de amor na pele e sentia que você me amava no corpo inteiro na alma inteira e você soltou meu corpo e eu o teu, e me veio um frio absurdo e você foi embora e eu fiquei parada, tudo girava, como as coisas podiam continuar acontecendo? Porra, as pessoas falando, o transito caótico, a moça falando que era proibido fumar naquele lugar, e eu não acreditava, fiquei estática por alguns eternos segundos, não conseguia exercer qualquer tipo de movimentação, até que senti teu cheiro no meu corpo, teu toque na minha pele, procurei você incessantemente em todos os lugares, e eu te via, mas era piração, delírio, e eu pirei e eu não dormia e me drogava sem parar, teu cheiro foi sumindo de mim, eu não agüentava mais, e eu procurava teus arranhões, qualquer fio de cabelo teu, qualquer coisa porra, qualquer coisa e eu não achava mais, o que eu achava era mentira, lembrança, ardia, eu arranhava o lençol, mas não encontrava tua textura nem respiração, era lembrança por toda parte e o meu ar foi acabando, fui sufocando, pirando na tua ausência, ai eu surtei inteira e plena, menti, era insustentável, inventei uma lucidez e me suicidei pela primeira vez.
Ana T.
talvez....
O João.
O João tem o olhar mais bonito do mundo.
Aqueles olhos redondos, expressivos e encantados.
O João é quem me olha nos olhos.
Sorrindo, todo cheio de manhas.
O João me entende com a alma.
Sem justificativas, sem desculpas e amarras
O João é livre que nem passarinho
Sabe, esses dias eu cheguei em casa e o João não estava, ai eu sai procurando
E não achava, não achava, fui ficando sem ar, fui me perdendo e não consigo me achar
Me debrucei na janela, olhei pro céu e chorei
Chorei tanto
Cadê o João?
O João sempre cuidou da Raquel
A Raquel sempre cuidou do João
Tá tudo tão pequeno, tá tudo sem sentido
Parece que eu não moro aqui
Tá tudo tão vazio, a casa, os corredores, eu
Ta tudo tão sem graça
Fiquei olhando pro céu sem estrelas fiquei olhando pra toda gente
Apartamentos acesos, carros, ouvi barulho de risada, garrafa quebrando
Senti vontade de gritar João João
É tanta ausência, é tanta ausência em mim
Mas ai amanheceu sabe...
E na minha janela apareceu um passarinho bonitinho
Com o peito amarelo
E puxou conversa comigo
Quis saber qual era o motivo dos meus olhos inchados
Eu falei né, e ele me lembrou uma coisa linda
Que o João só é João se é feliz
Ai eu sorri e me veio um choro leve, doce
Com tanto amor e tanta ternura
O bichinho tava certo
O dia amanheceu lindo, cheio de saudade
Mas é assim né não?
O passarinho bateu as asas e foi-se embora
E eu fiquei pensando
O João pode ir pra qualquer lugar
Bogotá, que seja
O olhar dele não vai desgrudar de mim
A risada é nossa, as bobagens são nossas
O laço é tão forte, não carece ter medo não!
O amor é tanto que até pode doer
Mas sempre vai me fazer respirar melhor
O João sempre vai me olhar nos olhos, até quando não estivermos nos vendo.
É além sabe?
É pra sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre....
no instante em que você sentir vontade de
transbordar (bordar)
abordar
o tédio
você grita bem alto
– grita
! !!!!!!!!!!!!!!!!!!
você puxa conversa
e conta para um desconhecido
qual é o gosto da monotonia
o tom contínuo
o mesmo tom
às vezes é só não gostar-cansar
às vezes
é não
saber
o
por que
isso é louco!
isso me pira !!!
como a gente para de sentir as coisas?
como
eu começo a sentir?
qual é o instante?
é tudo química?
(já teve tanta
coisa imprevisível
atípica
mas sem sentido
sem sentido no sentido da ausência do sentir
sentir)
talvez nem tudo
seja uma questão
de monotonia&tédio.
pra você é só com
corrente elétrica percorrendo o corpo inteiro
não te imagino almoçando
acostumado a ouvir o ecoar dos talheres alheios
não te imagino preso a sala de jantar
rotinas insustentáveis
não imagino
não idealizo
idealizar é chato
não quero o ideal
quebre os pratos
grite comigo
me segure pelo pulso
só não me deixa desmaiar
só
não
destile
indiferença
eu analiso tudo
isso sufoca
às vezes
paranóia rotineira
relações são de vidro? cristais?
detestam perturbações
mas eu quero é perturba-las
- Abril acaba nessa sexta.
- Quando terminarmos a rua, nos separamos.
- Ainda não nos cansamos um do outro.
- É pouco tempo.
- Três semanas.
- Não era um mês?
- Não vejo defeitos.
- Vícios inofensivos, literários.
- Vou te ligar pra saber como foi seu dia.
- Não quero que você me conheça.
- É. Acho que não quero saber dos teus anseios.
- O que você fez na tua mão?
- Queimei com o isqueiro.
- Proposital?
- Talvez.
- Você já namorou?
- Com você, hoje faz três semanas.
- Um mês, digo...além de mim.
- Nunca.
- Nunca ficou bastante tempo com alguém?
- Você quer saber do meu passado? Quer outro cigarro?
- Sim, obrigada. Eu gosto de imaginar as pessoas vivendo suas vidas...em outras esferas, relações cotidianas.
- Acho que o máximo foram três meses.
- Os defeitos já gritavam?
- Eu gosto da empolgação.
- Tá com frio?
- É que esse chão tá gelado.
- Vamos levantar.
- Não, não precisa.
- Vem!
- Como você sabe que eu to com frio?
- Porque eu sinto teu corpo tremendo.
- Você é estranha.
- Você quem é.
- Eu gosto.
- De ser estranho?
- De você estranha.
- O jeito como as pontas dos seus dedos tocam meu rosto.
- Gosto do cheiro misturado, pele e cigarro.
- Eu também. Fica aqui oh...
- É.
- Queria outro cigarro.
- Tem outro aqui...ai..acabou.
- Ficou o cheiro na ponta dos dedos.
- A rua está chegando ao fim.
- É, eu sei. Mas o meu cheiro vai ficar em você.
- Pena que é só o cheiro.
- Todo essa movimentação..vicia.
- É...puxar o cabelo, suspirar, respirar, sentir a língua desmanchando na boca.
- Um tango em silêncio.
- Você me faz sentir frio e calor ao mesmo tempo.
- Meu ombro é um dos pontos fracos.
- Eu percebi.
- É...acho que é isso.
- Você volta? Ai..olha eu querendo controlar tua vida.
- Claro que eu volto. Sem justificativas por hoje.
- Sem achares. As crianças que vivem.
- Espontaneidade.
- Te imagino jogado no chão brincando com criança.
- É! É isso mesmo.
- Experimentações libertárias.
- Oi?
- Nada. Eu falo demais.
- Talvez.
- Viu, vou-me embora.
- É, a rua acabou.
- E a empolgação?
- Continua.
- Tem gente que prefere terminar no ápice.
- Eu prefiro morrer de intensidade.
- Lembrei-me de “Cleo e Daniel”.
- Todas pessoas olhando pra gente, julgamentos, pudores, ódio.
- Falta de sexo.
- Falta tesão.
- É. Sexo tem muito.
- Pânico de tédio
- Monotonia me assusta.
- Me envolve com tantas coisas, mas não me concentro em nenhuma.
- Correntes elétricas percorrem o meu corpo inteiro. Agora. Com você.
- Minha pele na tua.
- Preciso ir.
- Então vai.
- Volta.
- Cuida desse resfriado.
- Eu cuido.
...
Inspirado no filme "Eu, você e todos nós" - e não só.
Arrepiou o corpo inteiro, tirou o fôlego, fez perder a hora, mudar o ritmo de São Paulo, ser turista sempre e andar no passo que eu bem quiser, olhar pro alto, falar da lua e declamar poesias ruins no teu ouvido, fumar do teu cigarro, beber da tua bebida, rir, falar falar falar sentir vontade, vontade mesmo.... sabe, daquelas que dá e não passa com exclamação! sem ironia por hoje, sem sarcasmos e afins, sem fins e enfim sem pontos sem teorias sem roupa e com muito tesão!
Ana T.
Eu penso todas as noites naqueles cadernos.
Nos dois vermelhos, no preto.
O preto eram coisas mais acadêmicas sabe? Mas todas relacionadas aos Anarquismos.
Sinto saudade da folha. da textura...branca....
Sério, me sinto extremamente perdida.
Queria chorar, mas não consigo.
Aperto tão forte.
Ausência de rumo.
Não é exagero. Ponto.
Não peço pra você me entender, nem pra me consolar.
Só me escuta.
Já pensei em sair dos blogs.Sumir com a Ana T.
Mas ela já está tão distante.
Ladrão maldito. Maldito.
Fodam-se as causa sociais.
Fodam-se as lutas de classes.
Não quero saber de Foucault.
Já pensei em nunca mais escrever. Nunca mais.
Sumir de todos os meios de comunicação.
Todos.
Mas não consigo.
Preciso me expor, expor a dor. Despertar a dor.
Queria sentir uma dor física.
Algo mais concreto.
Me sinto louca, sentindo tanta coisa abstrata.
Ainda penso em parar de escrever.
Boicotar a mim mesma.
Proibir todos os impulsos.
Eles vão é virar pó mesmo, de qualquer jeito.
Porra, eu perdi tudo...
Eu olho todos os dias as estantes, vejo os livros e procuro o vermelho.
Todos os dias.
É uma dor abstrata. Isso me irrita.
Acabou Raquel, acabou.
Pára de querer continuidades, fase de destruição.
Fase de destruição.
Não! Porra! O meu eu mais vergonhosos estava lá, coisas que eu não dizia nem pra mim mesma, porra, porra, cacete!
Porra!
Me sinto perdida.
Não quero frases de auto-ajuda, não quero ouvi-las.
Que vão se danar todas elas.
"Ai, isso passa."
"Você supera...."
Que bom que passa. que bom que eu supero. porra.
Adoro ser a adolescente rebelde.
EU VOU É TOMAR UM PORRE.
Obrigada.
Não precisa nem escutar. Foda-se. Ninguém lê, ninguém escuta, falo o que eu quiser. só eu escrevo nessa merda mesmo.
Raiva.
RAIVA ENLATADA DA PORRA.
Não quero dormir com essa energia.
Vamos parar por aqui, vamos pensar em borboletas azuis idiotas voando por ai.
Fase de destruição.
Vamos deixar o passado pra lá?
No lugar dele?
Chega de amores amáveis....chega de querer reviver o que não viveu.
[eu postei isso em outro blog no dia 6 de julho.]
câmbio/desligo
- você não escreve mais?
- não.
- por que?
- ah....
- eu gostava das coisas que você me escrevia.
- teu olhar era viciado.
- tá vendo como você ainda escreve.
- às vezes eu até sinto vontade sabe...mas ai eu começo a me analisar...e a vontade some.
- não cara, escreve e pronto.
- é que geralmente quando eu sinto vontade eu estou deitado.
- ah, para com isso né...tenha um bloquinho ao lado da cama.... escreve...gostava tanto dos teus escritos.
- já disse que teu olhar era viciado.
- bonito isso...olhar viciado...podia até ser, mas eu também escrevia..e não era qualquer coisa que eu gostava de ler, nunca é.
- você escreve ainda né?
- acho que eu vou escrever pra sempre.
Ele riu, os olhos eram esverdeados e os cachos castanhos.
Ainda estava inconformado com o fato da sua primeira namorada já estar trabalhando.
- Como isso? Estou me sentindo velho! Será que já faz tanto tempo assim?
- Já cara, um bom tempo.
- A gente estudou junto no Jardim de Infância.
- Tá, mas disso a gente nunca lembrou.
- Como assim?
- Ué, quando a gente começou a namorar eu não me lembrava de você criança.
Os olhos dele desviaram dos dela.
- Eu sabia quem você era....mas...era tanta timidez em mim.
- Ah..sabia nada.
- Sabia sim...
- Eu também era tímida.
Ele deu uma gargalhada gostosa, ela sorriu um pouco tímida.
- Borboleta...
- Anjo!
- Cada coisa que a gente inventa né não?
-Pois é.... bom, to indo embora do trabalho, finalmente.
- Vai lá, vou ver se ainda pego o bandejão aberto!
- O tempo passou né?
- Pois é.
- Viu...
- Oi?
- Volta a escrever.
- Quem sabe...
- Escreve pra mim....
Ele sorriu..um riso inocente, como aquele da adolescência...
- Será que o teu olhar ainda é viciado?
Ela encarou os olhos esverdeados dele.
- Será que você ainda escreve bonito?
Se beijaram no rosto e foram embora, cada um pra sua vida.
Ah..as memórias inventadas...ah...o passado idealizado.
Beijo com pinga.
Beijo com cachaça!
Beijo para borboletas e anjos.